Memórias da Ditadura

Futebol

O futebol não está isolado do restante da sociedade. Como parte dela, reflete as mesmas contradições, interesses e tensões. Influencia e é influenciado. Usa e é usado. Joga e deixa jogar. Na noite que durou 21 anos, a bola não parou de rolar no Brasil. O futebol se modernizou, fomos tricampeões mundiais, grandes estádios foram construídos, o campeonato nacional nasceu. Por outro lado, vozes aqui e ali tentaram dizer que alguma coisa não ia bem. Como em outros campos da sociedade, o futebol brasileiro durante a ditadura militar foi espaço de conivência e atrito, submissão e tensionamento, propaganda e resistência.

Selecionamos 50 histórias que refletem essa relação entre o futebol e a ditadura militar no Brasil. Não são todas as histórias do período, claro, mas uma boa síntese dos usos do futebol pela ditadura, das tensões entre personagens e o regime, dos espaços de resistência e das vezes em que futebol e ditadura apenas se cruzaram no caminho.

(Textos de Daniel Cassol e Leandro Stein, publicados nos sites Impedimento e Trivela, em 04/04/2014)

Médici flamenguista, elefantes brancos, Madureira na China

1. Para se tornar popular, o presidente se juntou à maior torcida

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Médici foi um presidente imposto goela abaixo dos brasileiros. Mas não era a imagem de ditador que o regime queria passar à população. Por isso mesmo, a ditadura se aproveitou da paixão do general pelo futebol para criar essa aproximação. Antes de entrar para a escola militar, o gaúcho foi jogador do Grêmio de Bagé. Torcedor do Grêmio, Médici também passou a dizer que apoiava o Flamengo, uma atitude vista como populista, para ganhar a afeição da maior torcida do país. Não à toa, era quase sempre visto nos estádios.

2. Um torneio para Médici

Além de associar sua imagem a um clube popular, Médici também ganhou um torneio com seu próprio nome, um ano após a conquista do tricampeonato pela seleção brasileira. O “Torneio do Povo”, oficialmente Torneio General Emílio Garrastazu Médici, reunia as equipes consideradas mais populares em cada estado na época. A primeira edição contou com Flamengo, Atlético-MG, Corinthians e Internacional, sendo os paulistas os primeiros campeões. Flamengo e Coritiba conquistariam as outras duas edições.

3. O Brasileirão de 1971 teve um concorrente

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Uma das razões da criação do Campeonato Brasileiro em 1971 foi atender aos anseios por uma competição que realmente abrangesse o país. Entretanto, a primeira edição só contou com oito estados, um a mais do que no Robertão de 1970. O suficiente para gerar a revolta em algumas regiões esquecidas pela Confederação Brasileira de Desportos (CBD). Para protestar contra as limitações, o governador de Goiás apoiou a realização do Torneio de Integração Nacional – clara referência à política de Médici no período. Participaram seis times goianos, além de dez de outros estados. E um Atlético também foi campeão: o Goianiense, batendo a Ponte Preta nas finais.

4. A seleção foi a embaixadora dos elefantes brancos da ditadura

A construção de estádios era uma prática corriqueira do governo. Os militares faziam obras faraônicas para marcar presença em diferentes cantos do país, assim como para passar uma ideia de seu poderio econômico. E quase sempre a seleção era usada nessa simbolização. O maior ícone do orgulho nacional, levando milhares às arquibancadas. Entre 1964 e 1985, a equipe jogou em 17 estádios recém-inaugurados, a maioria deles suportando multidões superiores a 30 mil pessoas.

5. A participação dos cartolas paulistas em 1964

O golpe de 1964 foi organizado por militares, mas não seria possível sem o apoio de parte da sociedade civil. Nesse contexto, os dirigentes de clubes paulistas foram protagonistas na conspiração contra João Goulart. Segundo René Armand Dreifuss, cartolas da Portuguesa, Palmeiras, São Paulo e Corinthians estiveram envolvidos nesse processo, como representantes da elite e comandantes de organizações populares. O presidente do São Paulo nessa época era Laudo Natel, também vice-governador do Estado e que se tornaria governador por dois mandatos entre o fim dos anos 1960 e o início dos 1970. (Leia mais)

6. Casa de Garrincha e Elza foi invadida em 1964

Na madrugada de 20 de junho de 1964, dez homens que se diziam do Departamento de Ordem Política e Social (Dops) invadiram a casa de Garrincha e Elza Soares na Ilha do Governador. A história é relatada no livro “Estrela Solitária”, biografia de Mané escrita por Ruy Castro.  Não se sabe se os invasores eram agentes da ditadura. Elza e Garrincha eram alvos frequentes de hostilidades por parte de torcedores raivosos e moralistas em geral.

Fato é que os homens renderam o segurança e fizeram os ocupantes da casa – Garrincha, Elza, a mãe e três filhos da cantora – ficarem nus contra parede. A casa foi completamente revirada. Antes de saírem, os homens ainda mataram um pássaro de estimação de Garrincha, presente do governador da Guanabara, Carlos Lacerda. Rezava a lenda que a ave – um mainá – dava azar ao jogador. Nos dias seguintes, alguns jornais noticiaram que a casa de Garrincha e Elza havia sido invadida enquanto eles dormiam.

7. Madu na terra de Mao

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O Madureira tomou gosto por desbravar o mundo durante a década de 1960. A primeira grande aventura aconteceu na Cuba de Fidel Castro, ainda nos tempos de João Goulart presidente, quando chegaram a ser recebidos por Che Guevara na ilha. Já no ano seguinte, o Tricolor Suburbano saiu em turnê mundial. Passou por outros países comunistas, como a União Soviética. E, dez dias depois de o golpe militar se consumar no Brasil, os cariocas estavam na China de Mao Tsé-Tung, o que era proibido pela Fifa. Foram recepcionados pelo vice-primeiro-ministro Chen Yi e passaram por quatro cidades. Chefiado por um militar na delegação, o Madureira só teve problemas ao sair do país asiático, depois que um grupo de chineses foi detido pela ditadura brasileira. Só depois de alguns dias de negociação é que os brasileiros foram liberados para a volta. (Leia mais)

8. Caio Martins foi usado como prisão política

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O estádio de Caio Martins não servia apenas de casa ao Botafogo até alguns anos atrás. Durante a ditadura militar, foi palco de prisões e torturas, num caso em que, respeitadas as proporções, lembra o do Estádio Nacional do Chile. De acordo com estudo da Comissão Nacional da Verdade, pelo menos 38 pessoas ficaram presas em Caio Martins.

9. Após o golpe, Brasil impede a participação da União Soviética na Taça das Nações

A Confederação Brasileira de Desportos (CBD) preparava uma grande festa em 1964. A entidade completava 50 anos e realizaria a Taça das Nações, torneio amistoso marcado para maio, com jogos no Maracanã e no Pacaembu. Inglaterra, Argentina e União Soviética eram os convidados para a comemoração. Mas o início da ditadura fez com que a pressão para que o time soviético fosse expulso do torneio se tornasse enorme. Presidente da confederação, João Havelange cedeu e substituiu os soviéticos por Portugal. E, na preparação, mais problemas durante um reles treino, quando os jogadores utilizavam coletes vermelhos. Depois, Havelange os substituiu por outros com as cores da bandeira. Mesmo com o elenco completo, o time de Vicente Feola foi vice-campeão, superado pela Argentina de Amadeo Carrizo, Antonio Rattín e Roberto Telch.

10. O ministro que interferiu num Gre-Nal

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Alcindo se tornou célebre por suas grandes atuações nos clássicos. Dispensado do Inter, o ídolo do Grêmio tinha gana de jogar contra seu ex-clube. Mas não poderia fazê-lo em um Gre-Nal de 1967, tendo que cumprir suspensão após ser expulso no jogo anterior. Mesmo assim, o atacante entrou em campo. A carta branca foi dada pelo Ministro da Educação e Cultura, Tarso Dutra, que era gremista. Nas arquibancadas, os colorados ironizaram o pistolão com uma faixa dizendo “Obrigado, Ministro”. E mesmo com Alcindo em campo, o Inter venceu o clássico por 1 a 0, gol de Claudiomiro.

Libertação do embaixador, Marighella, seleção militarizada

11. Embaixador foi libertado após um jogo no Maracanã

A resistência à ditadura também se misturou ao futebol de uma maneira particular. A multidão de torcedores que saía do Maracanã numa tarde de 1969 não sabia que ali estava acontecendo um capítulo importante desse período. Foi o sequestro do embaixador norte-americano Charles Burke Elbrick em setembro de 1969, mantido por 70 horas numa casa no Rio Comprido, no Rio de Janeiro, por militantes da Dissidência Comunista da Guanabara e da Ação Libertadora Nacional (ALN).

Após a libertação de 15 presos políticos, o embaixador foi solto numa tarde de domingo, 7 de setembro de 1969. “Havia uma partida de futebol no Maracanã e era preciso alcançar exatamente a saída”, narra Fernando Gabeira no livro “O que é isso, companheiro?”. No Maracanã, para um público de 30 mil pessoas, o Cruzeiro vencia o Fluminense de Telê Santana em jogo da Taça de Prata, com dois gols de Tostão e um de Dirceu Lopes. Na dispersão da torcida, os militantes envolvidos no sequestro libertaram o embaixador e escaparam entre a multidão. No filme inspirado no livro, a cena é reproduzida com um Flamengo e Vasco. (Leia mais)

12. Morte de Marighella foi anunciada num Corinthians X Santos

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No dia 4 de novembro de 1969, o Corinthians recebia o Santos de Pelé no Pacaembu, em jogo válido pela Taça de Prata. A goleada de 4 a 1 viria em gols de Ivair, Suingue e Rivellino, duas vezes. No intervalo da partida, pelo sistema de som do estádio, o locutor anunciava: “Foi morto pela polícia o terrorista Carlos Marighella”. A pouco mais de dois quilômetros do Pacaembu, na Alameda Casa Branca, Marighella, que em São Paulo havia adotado o Corinthians como time de sua preferência, havia sido morto numa emboscada preparada pelo delegado Sérgio Paranhos Fleury.

No livro “Marighella – O guerrilheiro que incendiou o mundo”, o jornalista Mário Margalhães relata que antes de a bola rolar no Pacaembu a execução de Marighella já havia sido consumada. No entanto, Fleury só liberaria a área para os fotógrafos – muitos dos quais saíram do Pacaembu para registrar o caso – mais de 90 minutos depois. Tempo necessário para preparar a cena e justificar os ferimentos de dois policiais e a morte de um homem que passava de automóvel, além da execução de um Marighella totalmente desarmado. (Leia mais)

13. O vexame na Copa de 1966 vira tema para a inteligência nacional

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A campanha do Brasil na Copa do Mundo de 1966 não foi bem aceita pelos militares. A seleção teve uma preparação tumultuada, que acabou se refletindo em campo: eliminação na primeira fase, naquela que é ainda hoje a pior campanha da equipe nacional em mundiais. Logo na volta ao Brasil, a delegação foi escoltada pelo Serviço Nacional de Informações (SNI). Meses depois, foi criada a Comissão Selecionadora Nacional, que passaria a analisar a organização da Confederação Brasileira de Desportos (CBD). Além disso, o técnico Vicente Feola disse que sofreu pressões externas para escalar o time no jogo decisivo contra Portugal. (Leia mais)

14. Festa oficial para o milésimo gol de Pelé

Após marcar de pênalti o milésimo gol da carreira, no dia 19 de novembro de 1969, no Maracanã, Pelé foi recebido com honras de Estado em Brasília pelo presidente Médici. O jogador foi premiado com uma medalha de mérito nacional e recebeu o título de comendador, desfilou em carro aberto pelas ruas de Brasília e ainda virou selo comemorativo. (Leia mais)

15. A “militarização” da seleção brasileira em 1970

Após o fracasso da seleção brasileira na Copa de 1966, na Inglaterra, o governo militar decidiu imprimir no escrete canarinho o modelo de organização e disciplina que desejava para o Brasil. Pressionado pelo governo e pela oposição na Confederação Brasileira de Desportos (CBD), o presidente João Havelange passou a nomear militares para postos-chave dentro da seleção. Em 1968, a preparação física passou a ser comandada por Admildo Chirol, formado na Escola de Educação Física do Exército, auxiliado por Cláudio Coutinho e Carlos Alberto Parreira, que também tinham histórico na instituição militar. O tenente Raul Carlesso era encarregado de preparar os goleiros. Já o cargo de supervisor ficava por conta do capitão José Bonetti.

Apesar disso, João Saldanha, conhecido por suas ligações com o Partido Comunista, assumiu o comando técnico no lugar de Vicente Feola, mas não duraria até a Copa de 1970. Para o Mundial no México, o major-brigadeiro Jerônimo Bastos foi nomeado chefe da delegação, enquanto o chefe da segurança era o major Roberto Ipiranga Guaranys, que integra a lista de torturadores do regime. Era um modo de controlar eventuais arroubos subversivos dos jogadores e também de moldar o selecionado nacional à imagem e semelhança da ditadura militar. (Leia mais)

16. O sequestro que “abalou” a seleção no México

A Copa de 1970 aconteceu num momento de tensão política, com luta armada entre os militares e as guerrilhas de esquerda. Durante a competição, o embaixador alemão Ehenfried von Holleben foi sequestrado. E o regime tentou envolver a seleção no entrave, dizendo que a ação dos esquerdistas causou preocupação nos jogadores, podendo até mesmo atrapalhar os jogos. Era uma maneira de colocar a opinião pública contra as ações armadas.

17. Médici “convocou” Dadá, mas também tirou Toninho

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O pedido de convocação de Dadá Maravilha pelo presidente Médici é fato público. Entretanto, tempos depois, Toninho Guerreiro acusou o militar de também ter sido responsável por seu corte às vésperas da Copa de 1970. “Os médicos da seleção arrumaram uma sinusite para justificar minha exclusão”, disse em 1987. Inclusive João Saldanha acusava o doutor Lídio Toledo, médico da Confederação Brasileira de Desportos (CBD), de ter se omitido na ocasião do corte, deixando para o próprio treinador tomar a decisão sem nenhum embasamento clínico. Fora do Mundial, Toninho seguiu em boa fase no São Paulo, mas nunca aceitou a exclusão, tendo problemas com o álcool.

18. Havelange foi convocado a depor

Presidente da Confederação Brasileira de Desportos (CBD) entre 1956 a 1974, João Havelange inicialmente não era um nome do agrado dos militares. Ele chegou a prestar depoimentos em Inquéritos Policiais Militares (IPM) instaurados para investigar supostas irregularidades na entidade. Segundo o historiador Carlos Eduardo Sarmento, autor de “A regra do jogo: uma história institucional da CBF”, em depoimento ao documentário Memórias do Chumbo, o que incomodava os militares era uma relação familiar de Havelange com o ex-presidente Juscelino Kubitschek. A maneira como Havelange evitou maiores problemas é sempre contada para explicar sua habilidade para se relacionar com o poder: em vez de levar um advogado, ele foi acompanhado de um amigo que era general.

19. Saldanha diz que Médici é “gente do futebol”

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Uma das teorias sobre a saída de João Saldanha da seleção está relacionada às pressões do presidente Médici, especialmente diante dos pedidos de convocação de Dario, aos quais o técnico respondeu: “Eu e o presidente temos muitas coisas em comum. Somos gaúchos, gremistas, gostamos de futebol, e nem eu escalo o ministério, nem o presidente escala o time”. Entretanto, na revista Placar de 27 de março de 1970, o “João Sem Medo” escreveu uma carta aberta relacionando as razões de sua demissão. E não demonstra uma rusga tão grande assim com o presidente: “O senhor é um torcedor apaixonado pelo futebol. Isso é uma maravilha. O Brasil precisava há muito de um presidente que goste de futebol, verdadeiramente, como o senhor gosta. O senhor é homem de vestiário. Seu irmão foi um jogador muito bom. Então o senhor é gente do futebol”.

20. As primeiras medidas presidenciais após o tricampeonato

Para exaltar a “festa popular” depois da conquista do tricampeonato em 1970, o governo abriu o espaço do Palácio do Planalto para que o prédio público fosse ocupado pelo povo. Além disso, o primeiro a falar com os jogadores após a decisão contra a Itália foi o presidente Médici, que conversou com Pelé, Carlos Alberto, Rivellino, Gérson e outros jogadores. Segundo Pelé, a ligação não estava boa, havia muito barulho, a voz desaparecia e voltava: “Para nós, era uma grande honra falar com o presidente, sentíamos a sua emoção, que não era menor que a nossa”.

Pelé, Copa do México, “Pra frente, Brasil”

21. As duas faces de Pelé em relação à ditadura

Pelé não estava mais atuando em alto nível em 1974. Mesmo assim, havia espaço para o camisa 10 no time que pouco empolgou no Mundial da Alemanha. O motivo da ausência? Segundo o craque, em entrevista dada ao UOL em 2013, foi um boicote: “Pediram para eu voltar para seleção, eu não voltei. A filha do Geisel veio falar comigo, para eu voltar e jogar a Copa de 74. Por um único motivo não aceitei: estava infeliz com a situação da ditadura no país. Estava preocupado com o momento. Em apoio ao país, eu recusei, pois estava muito bem e poderia jogar em alto nível”. Uma posição bastante diferente da que tinha em 1972, quando falou ao jornal uruguaio La Opinión: “Não há ditadura no Brasil. O Brasil é um país liberal, uma terra de felicidade. Somos um povo livre. Nossos dirigentes sabem o que é melhor para nós e nos governam com tolerância e patriotismo”. (Leia mais)

22. Brasil: ame-o ou seque-o

Muitos militantes políticos que se entregaram à luta armada para combater a ditadura militar enfrentaram um dilema: torcer ou secar a seleção brasileira de Pelé, Tostão, Rivellino e companhia na Copa do Mundo do México? Não era fácil. Afinal de contas, um triunfo no futebol representaria um triunfo do regime militar. Mas era difícil segurar a paixão de torcedor.

O escritor gaúcho Aldyr Garcia Schlee, criador do uniforme verde e amarelo da seleção, conta uma história saborosa. No Rio de Janeiro, foi convidado por um amigo jornalista a assistir pela TV a partida do Brasil contra a Inglaterra, ao lado de “três representantes da alta cúpula do PCB [Partido Comunista Brasileiro]”. O combinado é que ninguém torceria pela seleção. “Quando Jair fez o gol, Osmar puxou o revólver e descarregou na rua. E gritou: ‘Puta merda, como é bom ser brasileiro’”, contou Schlee à Folha de São Paulo.

23. “Pra frente Brasil” e o ufanismo propagandeado com a seleção

A propaganda oficial do regime lançou mão de vários recursos para tentar legitimar a imposição unilateral de poder à população brasileira. Utilizou o cinema, o rádio, os jornais e também a censura a quem quisesse contrariar as mensagens positivas sobre o governo. E nenhum desses meios esteve tão colado ao futebol quanto as músicas nacionalistas. “Pra Frente Brasil” se tornou um hino da seleção na conquista da Copa de 1970. Autor da canção, Miguel Gustavo teria pedido à Assessoria Especial de Relações Públicas (Aerp), organismo responsável por elaborar a propaganda da ditadura, que divulgasse sua peça. E a instituição aproveitou bem a oportunidade, transformando a música em símbolo do ufanismo e do milagre econômico exaltado pelo governo de Médici.

24. A ligação anônima que garantiu Tostão na Copa

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Tostão era um dos destaques da seleção em 1970. Mas só se garantiu na Copa do Mundo após sofrer uma intimidação. Meses antes da convocação final, o atacante concedeu uma entrevista ao Pasquim com declarações mal vistas pelo regime, incluindo elogios a Dom Hélder Câmara, arcebispo de Recife e considerado um inimigo da ditadura. Depois disso, o craque recebeu uma ligação pedindo para que não tocasse mais no assunto se quisesse disputar o Mundial. Sua vontade prevaleceu, mas ele não se calou completamente após a conquista. (Leia mais)

25. Roberto Mendes: jogador, técnico e deputado da oposição em Alagoas

Roberto Mendes foi destaque do Centro Sportivo Alagoano no início dos anos 1960. Na mesma década, teve de assumir a função de treinador/jogador por dois anos, até que contratassem outro profissional. Sob seu comando, o CSA foi bicampeão estadual em 1965 e 1966. Sua família foi perseguida pela ditadura e teve dois irmãos mortos em emboscada, com sua mãe escapando por pouco de um atentado.

Em meio a toda essa efervescência política, tornou-se deputado estadual pelo Movimento Democrático Brasileiro (MDB), o partido de oposição à Aliança Renovadora Nacional (Arena) e, consequentemente, ao regime. Mandato cassado e direitos políticos suspensos, Roberto Mendes relembra que sua permanência em Alagoas se tornou inviável. “Nesse período, foram organizadas algumas tramas para acabar com minha vida”, revela. Exilou-se em 1969 e só retornou em 1982, com o enfraquecimento da ditadura e a anistia dos presos e perseguidos políticos. Foi vice-presidente de futebol do CSA no tetracampeonato alagoano de 1996 a 1999 e no vice da Conmebol, também em 1999. (Leia mais)

26. Chefão do governo americano em jogo da seleção

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Henry Kissinger é um personagem bastante controverso. Ex-secretário de Estado americano, é considerado um dos principais mentores da Guerra Fria, ao mesmo tempo em que ganhou o Nobel da Paz por negociar o fim da Guerra do Vietnã. Mas, independente de suas idas e vindas, o político é reconhecido por sua paixão pelo futebol. E esteve ao lado do presidente Geisel nas arquibancadas do Estádio Emilio Garrastazu Médici, em Brasília, para assistir a uma pouco empolgante vitória da seleção brasileira contra a seleção brasiliense. A visita do então Secretário de Relações Exteriores dos EUA à capital federal, no entanto, se dava por motivos diplomáticos, para avaliar a situação dos direitos humanos no país.

27. Uma afronta bairrista à seleção brasileira

Após a conquista do tricampeonato mundial no México, a Confederação Brasileira de Desportos (CBD) decidiu organizar a Taça Independência, em comemoração aos 150 anos da independência brasileira. A não convocação do gaúcho Everaldo, lateral-esquerdo do Grêmio e titular da seleção no México, provocou uma ira coletiva no Rio Grande do Sul e incendiou o bairrismo gaúcho contra o técnico Zagallo e a seleção brasileira.

Num rompante, o presidente da Federação Gaúcha de Futebol (FGF), Rubens Hoffmeister, desafiou a seleção brasileira para um amistoso contra um selecionado de jogadores do Rio Grande do Sul. Na verdade, era um combinado de Grêmio e Inter, com quatro jogadores de outros estados e também três estrangeiros. No dia 17 de junho de 1972, o Beira-Rio recebeu o maior público de sua história: mais de 110 mil pessoas que vaiaram o Brasil durante 90 minutos. O jogo, uma verdadeira guerra, terminou em 3 a 3.

Os gaúchos se moveram mais por bairrismo do que por oposição à ditadura, mas aquele foi um momento raro de contestação da ordem nacional – tanto é que os gaúchos foram criticados por falta de patriotismo. “Num raro momento de união entre colorados e gremistas, fortalecia-se a identidade gaúcha, justamente quando a ditadura tratava de moldar um Brasil de fantasia, unido, próspero e feliz, muito bem representado pela seleção”, escreve o historiador Cesar Guazzelli, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). (Leia mais)

28. Saldanha denuncia ditadura na Europa

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João Saldanha nunca fez questão de esconder sua ideologia. E, por isso mesmo, sempre se alimentaram suspeitas contra o técnico da seleção. Ele era acusado de enviar informações sobre a repressão para o exterior e chegou a ser chamado por autoridades do governo para conversar. Tempos depois, em entrevista à TV Record, Saldanha admitiu seus atos: “Porque eu já estava há um ano e pouco naquilo. Aí um amigo muito influente me deu uma lista de presos, desaparecidos, torturados e o diabo a quatro. Eu peguei a lista e corri a lista. Dei no Observer, no Le Monde, falei no rádio, em televisão na Europa, fiz o diabo com aquela lista”. (Leia mais)

29. O exilado que virou jogador de futebol na Bolívia

Um dos maiores especialistas em cultura africana no Brasil, o professor, historiador e escritor Joel Rufino dos Santos estudava História na Universidade de São Paulo (USP) e tinha 23 anos quando estourou o golpe militar. Procurou refúgio na embaixada boliviana e rumou para La Paz, em exílio forçado. Para se sustentar na capital boliviana, apresentou-se no Municipal de La Paz e passou a jogar futebol por 100 dólares por semana. Já em 1981, durante a reabertura, publicou o livro “História política do futebol brasileiro”, relacionando diversos problemas do esporte a decisões da ditadura. (Leia mais)

30. Afonsinho participa do movimento estudantil e se liberta do passe

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Afonsinho foi um grande símbolo de rebeldia na ditadura. Tanto por sua figura, cabelos compridos e barba espessa, quanto por suas atitudes. Brigou intensamente pela liberdade de seu passe, num tempo em que os jogadores eram submissos aos seus clubes, e por isso mesmo sofreu represálias no Botafogo. Mas, ainda mais notável do que isso, era seu engajamento político. O meia conciliava o futebol com a faculdade de medicina e participou do movimento estudantil. Em fevereiro de 1968, chegou mesmo a estar na missa de Edson Luís de Lima Souto, estudante morto no Rio de Janeiro por policiais militares. Após o culto, as pessoas que saíam da Igreja da Candelária foram atacadas pela cavalaria da polícia. Uma série de protestos relacionados a isso se seguiu naqueles meses, culminando no auge da repressão com o decreto do Ato Institucional No 5. (Leia mais)

Jogador anistiado, tragédia na Fonte Nova, os fuscas do Maluf

31. Irmão de Zico foi o único jogador anistiado

Irmão de Zico, Nando foi perseguido pela ditadura até durante sua passagem pelo futebol de Portugal – a polícia de Salazar foi atrás do ex-jogador no hotel em que ele morava. No Brasil, começou a ser visto como subversivo pelo regime ainda na época de jovem, quando participou do Plano Nacional de Alfabetização, idealizado por Paulo Freire. Chegou a frequentar o Dops junto com sua prima Cecília, uma militante do Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8).

Em 2003, Fernando Antunes Coimbra entrou com um processo na comissão de anistia do Ministério da Justiça. Sete anos depois, foi considerado pelo órgão um perseguido político dos ditadores, tornando-se, assim, o primeiro jogador de futebol a ser anistiado na história do Brasil. (Leia mais)

32. Fonte Nova, uma tragédia ocultada

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Inaugurada em 1951, a Fonte Nova foi ampliada, com a construção de um anel superior, sendo reinaugurada em 4 de março de 1971. Mais de 100 mil pessoas teriam comparecido ao estádio para assistir a Bahia X Flamengo e Vitória X Grêmio. No segundo tempo da partida de fundo, um refletor estourou e um pânico percorreu imediatamente as arquibancadas. Com medo de que o estádio viesse abaixo, pessoas chegaram a se jogar das arquibancadas e a invadir o campo. Oficialmente, fala-se em 2.086 feridos e dois mortos. No entanto, vivia-se o auge do regime militar e a construção de estádios era uma de suas armas. O trabalho da imprensa foi restringido, muitos atendimentos hospitalares não foram registrados e até hoje não se sabe ao certo o número exato de mortos e feridos. (Leia mais)

33. Os produtores de cacau colocam o Itabuna no Brasileirão

“Onde a Arena vai mal, um time no nacional”. O lema tomou conta do Campeonato Brasileiro a partir de 1974. A derrota nas eleições da Aliança Renovadora Nacional (Arena), o partido do regime, fez com que o governo Geisel iniciasse uma prática clientelista através do futebol, integrando nacionalmente as cidades através da inclusão de clubes na competição nacional. De 42 times em 1975, o Brasileirão saltou para 94 participantes em 1979. Eram times como o Itabuna, da Bahia, convidado para o torneio de 1978 após um mutirão feito por produtores de cacau da região para arrecadar fundos, além do pedido do governador Roberto Santos, que pretendia tirar o prefeito do Movimento Democrático Brasileiro (MDB), partido de oposição, da cidade baiana.

34. O futebol como segurança nacional no Vale do Paraíba

Além dos governadores, o regime militar também determinava os prefeitos das cidades que bem entendesse. As chamadas “cidades de segurança nacional” estavam nessa conta. E uma delas era Volta Redonda, da Companhia Siderúrgica Nacional, que ganhou um clube bancado pelos militares para distrair a população a partir de 1976. O “Voltaço” era liderado por Isnaldo Gonçalves, presidente da Arena municipal e chefe de gabinete do prefeito. Já no Vale do Paraíba paulista, naquele mesmo ano, o prefeito biônico ajudou na refundação do São José Esporte Clube. O município comprou o estádio Martins Pereira, salvando a entidade que acumulava dívidas. A partir de então, o clube mudou de cores e de mascote.

35. Os fuscas de Maluf à seleção de 1970

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Não foi apenas Médici que bajulou a seleção tricampeã do mundo na volta ao Brasil. Prefeito biônico de São Paulo, Paulo Maluf deu 25 fuscas ao elenco que triunfara no México e tratou de propagandear a riqueza do povo paulistano ao premiar os jogadores. Entretanto, não eram todos os cidadãos que concordavam com o político. Em 1995, uma ação popular pediu que Maluf devolvesse o dinheiro gasto com os carros, mas o ex-prefeito venceu a disputa judicial no Supremo Tribunal Federal (STF). (Leia mais)

36. José Maria Marin e o assassinato de Herzog

Em 1975, José Maria Marin era deputado estadual pela Aliança Renovadora Nacional (Arena). O jornalista Vladimir Herzog retornara de Londres para assumir o comando do departamento de jornalismo da TV Cultura. Vlado fazia parte do Partido Comunista, o que não agradava nem um pouco ao governo. Por ser considerado subversivo, Herzog foi chamado ao DOI-Codi para interrogatório. De lá, não saiu vivo, com a versão dada pelos militares de que havia se suicidado. O filho de Vlado, Ivo, acusa Marin de ter endossado o discurso do deputado Wadih Helu, que pedia investigações no jornalismo da Cultura, por crer que praticavam um desserviço à população ao levar “desconforto não só aos círculos políticos, mas também aos lares paulistanos”. (Leia mais)

37. Um militar na presidência da CBF

A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) chegou a ter um presidente militar, com forte ligação com a ditadura. O Almirante Heleno Nunes presidiu a antiga Confederação Brasileira de Desportos (CBD) entre 1975 e 1979, e continuou à frente da entidade após a mudança de nome para CBF até 1980. Heleno Nunes chegou a dar nome a um torneio amistoso realizado em 1984 e vencido pelo Internacional. Oficialmente, a Granja Comary, centro de treinamentos da seleção, leva o nome do militar. No entanto, vereadores de Teresópolis criticaram a ausência de menções à figura de Heleno Nunes após a reformulação do local.

38. O minuto de silêncio por Jango no Beira-Rio

O Internacional tinha uma relação íntima com João Goulart. Afinal, os colorados podiam dizer que o presidente havia sido sua “prata da casa”, campeão juvenil quando passou pelas categorias de base do clube. Em 1976, Jango faleceu alegadamente de ataque cardíaco, em circunstâncias ainda hoje suspeitas. E o Inter resolveu homenagear antes de uma partida o presidente deposto pelos militares. O minuto de silêncio foi impedido por policiais responsáveis pela repressão do regime, mesmo sob vaias da torcida. Em dezembro de 2013, o clube relembrou o momento ao respeitar o minuto antes do jogo contra a Ponte Preta pelo Brasileirão. (Leia mais)

39. O futebol foi peça-chave na descoberta da Operação Condor

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O futebol contribuiu para que fosse revelada a Operação Condor, o consórcio entre países do Cone Sul para o sequestro e desaparecimento de militantes políticos. Numa tarde de novembro de 1978, o jornalista Luiz Cláudio Cunha, chefe da sucursal da revista Veja em Porto Alegre, recebeu uma denúncia de que um casal de uruguaios e seus dois filhos estavam sequestrados num apartamento do bairro Menino Deus. Cunha foi averiguar a informação e levou junto JB Scalco, conhecido pelo trabalho como fotógrafo de futebol. Ao baterem na porta do apartamento, surpreenderam militares uruguaios e policiais civis gaúchos mantendo sequestrada Lilian Celiberti. O fotógrafo reconheceu um ex-jogador do Internacional, Didi Pedalada, a essa altura trabalhando como torturador do Dops gaúcho. Foi o elo que permitiu a denúncia da Operação Condor – e a sobrevivência dos militantes sequestrados.

40. Reinaldo: gols de protesto

Ídolo do Atlético Mineiro, Reinaldo foi um dos jogadores que mais deu demonstrações públicas contra a ditadura militar. Na estreia da seleção brasileira na Copa de 1978, na Argentina, comemorou seu gol contra a Suécia erguendo o punho cerrado, a exemplo do que faziam os Panteras Negras nos Estados Unidos. O jogador do Galo chegou a ser capa do jornal alternativo Movimento: “Reinaldo: bom de bola e bom de cuca”, estampava a publicação em 1977. Por causa das posições políticas do jogador, sua presença no Mundial foi motivo de controvérsia. E o jogador continuou sendo alvo de perseguições.

Fla X Flu eleitoral, democracia corintiana, Sócrates pelas Diretas Já

41. Os estudantes protestaram pela convocação de Reinaldo

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Reinaldo foi o melhor jogador do Campeonato Brasileiro de 1977 com sobras. Ainda assim, não era nome tão frequente na seleção quanto sua fase sugeria. Fato para gerar suspeitas quanto à motivação política de sua ausência, diante da postura combativa que o atacante tinha em relação à sua ideologia.

Foi quando o movimento estudantil de Belo Horizonte adotou também a causa do craque. A frase “Por que Reinaldo não pode ter opinião política?” foi pintada no muro da Universidade Católica de Minas Gerais, enquanto manifestações foram realizadas na Praça Sete de Setembro. A comoção popular também ganhou volume com as declarações da imprensa e do próprio presidente do Atlético Mineiro, Valmir Pereira, que se reuniu com Heleno Nunes. O craque acabou convocado para a Copa, mas num encontro com o presidente Geisel ouviu: “Você cuida de futebol. Deixa que a gente cuida da política”. (Leia mais)

42. Um Flamengo X Corinthians na posse do presidente

A posse de João Baptista Figueiredo, em março de 1979, foi um megaevento. O regime realizou um show da Escola de Samba Mocidade Independente de Padre Miguel; um banquete com mais de 5 mil convidados, com comidas finas que iam de faisão a camarão; e um jogo de futebol entre Flamengo e Corinthians, disputado com os portões abertos no Serejão, em Brasília. Os rubro-negros venceram por 2 a 0, gols de Cláudio Adão e Tita, e foram condecorados com o “Troféu João Baptista Figueiredo”.

43. Presidente Figueiredo busca auxílio para salvar o futebol

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“Já não há craques como antes no Brasil” e “a violência nos estádios aumenta a cada dia”. Críticas contemporâneas? Nem tanto. Essas eram as queixas do presidente eleito, João Baptista Figueiredo, pouco antes de tomar posse, em outubro de 1978. O político fez o pedido de ajuda a jornalistas que visitaram Brasília, sob a promessa de formarem um grupo de trabalho de alto nível para realizar a pesquisa junto a dirigentes, jogadores e juízes. (Leia mais)

44. Mundialito de 1981: a seleção como “válvula de escape”

O desgaste da ditadura militar e o esfacelamento do “milagre econômico” fizeram com que o Mundialito de 1981, disputado no Uruguai, representasse um outro momento na relação da seleção brasileira com o regime. No lugar do ufanismo do tri em 1970, entrava o futebol como válvula de escape para um cotidiano difícil. “Uma vitória naquele momento representaria não o alinhamento nacional a um projeto político e econômico vitorioso, mas um pequeno momento de alegria diante de um cenário futuro que se apresentava sombrio”, explica o historiador Gerson Wasen Fraga. Mesmo na imprensa, foram mais comuns as críticas à ditadura durante a campanha do Brasil no torneio disputado em Montevidéu. (Leia mais)

45. As Diretas Já abafam o hino na final do Brasileiro

A Emenda Dante de Oliveira já havia perdido o pleito no Congresso, mas o desejo pelas “Diretas Já” continuava vivo na população. Mais de 128 mil torcedores lotaram as arquibancadas do Maracanã para a final do Campeonato Brasileiro de 1984, entre Fluminense e Vasco. E os acordes do hino nacional não puderam ser ouvidos diante do coro feito pelas duas torcidas pedindo as eleições diretas.

46. Uma faixa pela anistia na torcida do Corinthians

Uma partida entre Santos e Corinthians, em 11 de fevereiro de 1979, registrou um dos maiores públicos da história do Morumbi. Mais de 103 mil pessoas viram o Corinthians vencer com gols de Sócrates e Palhinha. Mas a partida entrou para a história por outro motivo. No meio da torcida organizada Gaviões da Fiel, brotou uma faixa com os dizeres: “Anistia ampla, geral e irrestrita”. “Isso mostrou o perigo da popularização do movimento de anistia e serviu para acelerar o processo. O governo militar fez a anistia antes que fossem obrigados”, afirmou o advogado e militante político Aton Fon Filho, idealizador da ação no Morumbi.

47. O comunista campeão brasileiro em 1981

O centroavante Heber não é das figuras mais lembradas no Grêmio campeão brasileiro de 1981. Vindo do Goiás e reserva de Baltasar na maior parte da campanha, era conhecido por ser um jogador técnico. Mas também por sua ideologia. Nos anos 1980, período de distensão da ditadura militar, chegou a declarar numa entrevista que simpatizava com o comunismo. Além disso, sua própria figura mostrava essa rebeldia, com barba e cabelos longos.

48. Militar vetou mensagens políticas na camisa do Corinthians

Presidente do Corinthians entre 1981 e 1985, Waldemar Pires foi chamado no Rio de Janeiro pelo brigadeiro Jerônimo Bastos, então presidente do Conselho Nacional de Desportos (CND). “Vocês não podem utilizar esse espaço para fins políticos”, disse Jerônimo, segundo depoimento de Pires ao livro “Democracia Corintiana – a utopia em jogo”, escrito por Sócrates e Ricardo Gozzi. A partir de uma ideia do publicitário Washington Olivetto para chamar atenção para possíveis anúncios, mensagens alusivas às Diretas eram estampadas na camisa do Corinthians. Até o veto do brigadeiro. “Ele pediu que tirássemos a mensagem e nós o fizemos”, contou Waldemir Pires.

49. Quando Tancredo X Maluf virou Fla X Flu

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Flamengo e Fluminense fizeram a decisão da Taça Guanabara de 1984 sob forte influência política. Afinal, os adversários na decisão resolveram se posicionar diante da disputa entre Tancredo Neves e Paulo Maluf, candidatos nas eleições indiretas que determinariam o primeiro civil a presidir o Brasil em 21 anos. Numa visita a Brasília, quatro jogadores tricolores deram uma passada no gabinete de Maluf. Deixa para o presidente rubro-negro, George Helal, se dizer tancredista. Os próprios candidatos começaram a palpitar sobre a decisão: para Tancredo, 3 a 1 Flamengo; para Maluf, 2 a 1 Fluminense. E, enquanto as torcidas rivais concordavam entre si nas arquibancadas, com faixas contra as “malufadas”, os flamenguistas anteciparam a vitória tancredista ao ficar com a taça.

50. A derrota das Diretas culminou no adeus do Doutor

O engajamento de Sócrates na reabertura do Brasil é evidente. Líder da Democracia Corintiana e capitão da seleção de 1982, o Doutor saiu às ruas para promover a campanha das Diretas Já. No último comício antes da votação da Emenda Dante de Oliveira, que decidiria se as eleições de 1985 seriam diretas ou não, o meio-campista prometeu permanecer no país se a democracia voltasse a ser lei no país. O Dia do Fico de Dom Pedro III, como passou a ser chamado pelos companheiros corintianos. Não pôde cumprir a promessa. “A emenda não passou e eu me senti, além de absolutamente frustrado e chocado, comprometido a ir embora”, afirmou. Acabou assinando com a Fiorentina, da Itália.