Rosemeire Nogueira é jornalista, militante e presidenta do Grupo Tortura Nunca Mais de São Paulo. Foi presa pela ditadura militar em 4 de novembro de 1969, mesmo dia da morte de Carlos Marighella. Na época, militava na Ação Libertadora Nacional (ALN) e trabalhava no jornal Folha da Tarde.
No momento da prisão, Rose estava em seu apartamento com o marido, Luiz Roberto Clauset, e o filho Carlos Guilherme Clauset, que tinha apenas 33 dias de vida. O delegado Sérgio Fleury ameaçou entregar o bebê para o Juizado de Menores, mas Rose conseguiu convencê-lo a deixá-lo com os sogros.
Levada ao Deops, Rose Nogueira foi torturada. A militante foi transferida para o Presídio Tiradentes às vésperas do Natal de 1969. Durante sua prisão, dividiu a cela com mais de 50 mulheres, entre elas a presidenta Dilma Rousseff. Eram conhecidas no presídio como “as donzelas da torre”, ala que abrigava presas políticas do regime militar. Foi solta após nove meses, mas ficou sob liberdade vigiada. Por dois anos, teve de assinar semanalmente um livro na auditoria militar. Em 1972, foi julgada e absolvida.
A jornalista retomou o trabalho e atuou na Editora Abril, TV Cultura, e Rede Globo, participando da criação do programa TV Mulher. Ao buscar nos arquivos do grupo Folha sua ficha funcional, em 1997, descobriu que havia sido demitida em 9 de dezembro de 1969, quando estava presa no Deops, por abandono de trabalho.
Desde 2000, Rose Nogueira integra o Grupo Tortura Nunca Mais de São Paulo. Entre 2006 e 2009, presidiu o Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (Condepe-SP) e, em 2007, publicou o livro “Crimes de Maio”. Em 2011, recebeu o título de Cidadã Paulistana.
Com a instalação da Comissão Nacional da Verdade, Rose Nogueira passou a contribuir para a investigação dos crimes da ditadura militar através da Comissão da Verdade, Memória e Justiça dos Jornalistas.
Links
- “Um dia, lá no mundão, uma das donzelas da torre será presidente”, Rose Nogueira fala sobre a eleição presidencial de Dilma Rousseff, com quem esteve presa durante a ditadura militar
- No Presídio Tiradentes, rotina de dor e amizade
- Golpe pôs fim a período de felicidade, diz Rose Nogueira
- Rose Nogueira e a luta da mulher contra a ditadura
- Exército deveria presentear o povo com abertura dos arquivos da ditadura, diz Rose Nogueira
- Presidente do Grupo Tortura Nunca Mais pede reabertura de investigações sobre repressão
- Comissão da Verdade dos Jornalistas vai analisar 24 casos de profissionais mortos pela ditadura
- Entrevista à Revista TPM
- Tortura é um tema que não pode ser esquecido! - Entrevista ao site Latinoamericano
- Em corte seco - Depoimento ao DHNet
- Entrevista ao VOX – Especial Mulher.
frases
“O leite que eu tirava do seio ainda insistia em vazar e minha blusa cheirava a azedo. A febre aparecia todo dia. O leite me fazia pensar que, enquanto estivesse ali, brotando, eu estaria ligada ao meu filho. Dias depois veio o diminutivo do dia me buscar para depoimento. Empurrava-me pela escada, enquanto gritava: “Vai, miss Brasil! Sobe essa escada logo, sobe! Miss Brasil era o nome de uma vaca leiteira que havia sido premiada.”
“Fui presa pelo Sérgio Fleury, que queria levar meu filho para o juizado de menores. Fiz uma coisa que você só faz quando está com sua cria. Falei: ‘Eu não vou. Só vou se ele ficar com a minha família’. Ele disse: ‘Você sabe que posso usar de violência?’. Respondi: ‘Sei, mas eu não vou’. Acho que não tem nada mais forte do que a maternidade.”
“Era o que eles queriam: que eu soubesse que o bebê esteve lá, que poderiam fazer qualquer coisa. Meu Deus, eles não tinham limites! Ao voltar para a cela, o homem me olhou com ironia e disse: ‘Mas esse leitinho esse nenê não vai ter mais, não’”.