Edu Lobo

Filho do também compositor Fernando Lobo, de “Chuvas de Verão”, Edu ainda não tinha 18 anos quando conheceu um tal de Vinícius de Moraes. O poetinha, com a disposição que lhe era peculiar, logo se prontificou a colocar letra numa das harmonias de Edu, então um talentoso acordeonista e dedicado estudante de violão, fazendo surgir “Só me fez bem“. A surpreendente parceria foi um estímulo e tanto para o jovem estudante de Direito que, àquela altura, transformado em parceiro de Vinícius de Moraes, não via alternativa a não ser largar a faculdade e mergulhar na música. Foi o que ele fez.

Já no ano seguinte, 1962, Edu gravaria o primeiro compacto duplo, com quatro composições suas, todas de bossa nova. Não demorou para que sua música começasse a mudar. É que Edu se aproximara das atividades do Centro Popular de Cultura da UNE, criado em 1961, e, influenciado pelos amigos Sérgio Ricardo, João do Vale, Carlos Lyra e Ruy Guerra, pôs-se a abordar temas sociais em suas canções.

Com Gianfrancesco Guarnieri e Augusto Boal, do Teatro de Arena, fez a trilha sonora da panfletária Arena Conta Zumbi, em 1963, que incluiu futuros sucessos de Elis Regina como “Zambi” e “Upa Neguinho“, e reuniu parte desse repertório inicial no primeiro LP, A música de Edu Lobo por Edu Lobo, lançado em 1964 pela Elenco. Uma das faixas do disco era “Arrastão”, outra parceria com Vinícius, que, defendida por Elis, venceria o 1º Festival de Música Popular Brasileira da TV Excelsior em 1965.

Desde então, poucos compositores foram tão assíduos quanto Edu Lobo na Era dos festivais. Em 1967, numa das edições mais disputadas do Festival da Record, ele e Capinan sagraram-se campeões com a música “Ponteio”, que ele mesmo defendeu, em duo com Marília Medalha. Com vasta trajetória como autor de trilhas para teatro, Edu é parceiro de Chico Buarque em canções como “Beatriz“, “Bancarrota Blues” e “Cambaio”, feitas para três peças distintas.

Elis Regina defende a música "Arrastão", de Edu Lobo e Vinícius de Moraes, e conquista o primeiro lugar no I Festival da TV Excelsior, em 1965

Edu Lobo e Marília Medalha cantam"Ponteio", parceria dele com Capinan, no Festival da TV Record, em 1967, canção que seria a grande vencedora

frases

  • "Eduardo Lobo, ou melhor, Edu Lobo, é o mais jovem dos meus parceiros. Acabou de fazer 19 anos (...). Edu Lobo está aí para provar que a Bossa Nova, ao contrário do que muitos dizem, não representa uma quebra de tradição: é, isto sim, uma resultante natural do que há de melhor e mais positivo no cancioneiro popular carioca. (...) O importante é que se trata de uma mocidade sadia, atenta e responsável, que quer fazer boa música, e fazê-la consciente dos problemas do tempo em que vivem. Bravos, Edu Lobo! Ice a vela e vá em frente." (Vinícius de Moraes, texto de apresentação impresso na contracapa do compacto de 1962)

    "Música para teatro sempre fora um dos interesses de Edu Lobo e, desde 1962, ele vinha fazendo experiências no gênero, até que, em parceria com Guarnieri e Boal, compôs as canções para Arena conta Zumbi, uma peça sobre a escravidão, que estreou em maio de 1965 em São Paulo. Já na época, o disco de Arena conta Zumbi só conseguia ser ouvido como tarefa partidária, e mesmo assim penosa. Mas várias canções de Edu, como 'Zambi', 'Upa Neguinho' e 'Estatuinha', iriam escapar daquele cativeiro e ganhar alforria na voz da futura Elis Regina." (Ruy Castro, em "Chega de Saudade", de 1990)

    "Na primeira metade dos anos 60, Edu abriu o caminho para todos nós, a segunda geração da bossa nova. Aos vinte anos ele já compunha com Vinícius, era gravado por Nara, cantava na noite carioca. Eu morava em São Paulo e me apaixonei por teatro, especialmente por música em teatro, assistindo não sei quantas vezes ao Arena conta Zumbi. Também tive vontade de ser Edu Lobo de colete vermelho, na capa do disco da Elenco." (Chico Buarque, no site oficial de Edu Lobo)

    "Uma figura de compositor foi a linha condutora de uma fase brilhante da música popular brasileira: Edu Lobo. Se a bossa nova havia se caracterizado pela prática do detalhe e da linguagem camerística, segundo a bula rara e clara que nos deu João Gilberto, através do grito de Elis Regina, Edu Lobo iria explodir novamente o grande espetáculo musical." (Júlio Medaglia, em "Nova história da música popular brasileira", de 1977)