Gonzaguinha

Filho de Luiz Gonzaga, Gonzaguinha iniciou a carreira na década de 1960, no Rio, convivendo com artistas como Ivan Lins e Aldir Blanc, com os quais fundou o Movimento Artístico Universitário (MAU). Em 1970, começou a participar de festivais. O primeiro LP viria em 1973.

Por vias tortas, seu padrinho foi Flavio Cavalcanti. Naquele mesmo ano, em janeiro, o apresentador o convidou para participar do quadro Um Instante Maestro, com a canção “Comportamento Geral“. Nela, o compositor alfinetava a atitude complacente e medrosa daqueles que abaixam a cabeça para tudo e para todos: “Você deve lutar pela xepa da feira / e dizer que está recompensado”. O júri do programa destruiu sua música e cobriu Luiz Gonzaga Jr. de ameaças. Um dos jurados o chamou de terrorista; outro sugeriu sua deportação.

Foi o bastante para que o rapaz se tornasse conhecido. Em uma semana, o compacto vendeu 20 mil cópias e incomodou o Dops. A exibição da música foi proibida, mas não sua comercialização, de modo que Gonzaguinha aproveitou o sucesso para lançar o primeiro LP, que continha “Comportamento Geral” no lado B, no segundo semestre.

Gonzaguinha foi considerado um cantor sério, por vezes amargo ou rancoroso, habituado a vestir letras densas em harmonias dramáticas, em geral boleros ou sambas-canção. Entre os maiores sucessos estão “Começaria Tudo Outra Vez”, “Explode Coração”, “Lindo Lago do Amor“, “Espere por Mim, Morena“, “Redescobrir” (na voz de Elis Regina), “É” e “O Que É, O Que É”.

Programa Ensaio, da TV Cultura, gravado em 1990, seis meses antes de sua morte

frases

  • "Luiz Gonzaga Júnior, o Gonzaguinha, não foi melhor nem pior do que o pai; foi muito diferente. Primeiro, com seu estilo agressivo, foi um dos compositores mais perseguidos pela ditadura. Depois, com a democratização, se consagrou como um grande compositor de sucessos românticos. Não é fácil ser filho de Luiz Gonzaga e fazer uma carreira musical de sucesso. Com o pai na estrada, Gonzaguinha foi criado pelos padrinhos e fez sua primeira música aos 14 anos. Começou profissionalmente em 1968, brilhando ao lado de Ivan Lins e Aldir Blanc nos festivais universitários e, depois, no programa Som Livre Exportação, da TV Globo. Nos anos 1980, Gonzaguinha teve mais de 50 músicas censuradas e ganhou fama de agressivo e mal humorado. (...) Gonzaguinha entrou nos anos 1980 como um grande criador de músicas românticas, gravadas pelas maiores estrelas da MPB." (Nelson Motta, em sua coluna no Jornal da Globo)

    "Em seu primeiro LP, uma das músicas teve sua execução proibida em todas as emissoras do país. Mas foi graças a ela que Gonzaguinha tornou-se, da noite para o dia, uma celebridade. No início de 1973, foi convidado a cantar 'Comportamento Geral' no Programa Flávio Cavalcanti – um apresentador polêmico que, há anos, divertia-se em quebrar discos num quadro intitulado Um Instante Maestro. A gravação era um compacto simples que mofava nas lojas desde novembro do ano anterior. (...) No programa em que viu seu disco ser quebrado diante das câmeras, Gonzaguinha saiu do anonimato. (...) Era um moleque, inclusive diante da censura. Mas não achou de todo mal alimentar, para o público, esse seu lado ácido, crítico, e decidiu explorar a imagem de um homem sério e consciente, principalmente diante da política e das questões sociais. Para ele, música não deveria ser feita para divertir ou servir de fundo para uma conversa — 'música é para fazer pensar'. (...) Diziam que Gonzaguinha era pessoa difícil. E ele perguntava: — Mas e a vida? A vida é fácil? O mundo, as pessoas são fáceis?" (Dácio Malta, no artigo "Obrigado, Flávio Cavalcanti", publicado em "1973: O Ano Que Reinventou a MPB", de Célio Albuquerque, de 2013)