Ivan Lins

Ivan Lins tinha 25 anos e era bacharel em química quando inscreveu sua primeira canção num festival. Era 1970, o ano do tri, e “O amor é o meu país” foi logo taxada de ufanista por parte do público que a ouviu pela primeira vez na eliminatória do 5º Festival Internacional da Canção (FIC), no Maracanãzinho, no Rio de Janeiro. A patrulha era justificada: sob a batuta de Médici, o governo militar entrara em sua fase mais violenta, e a Copa do México contribuía para transmitir uma imagem de harmonia que nada interessava à resistência. Mas, àquela altura, o que Ivan queria era fazer música, batucando as teclas de seu piano com um estilo todo particular.

Naquele ano, Ivan Lins ia toda sexta-feira à casa do psiquiatra Aluísio Porto Carrero, na Tijuca, para fazer um som com os camaradas do Movimento Artístico Universitário, o MAU. O coletivo musical era formado por outros jovens compositores em início de carreira, como Gonzaguinha e Aldir Blanc, e Ivan logo assumiu a liderança do grupo ao se destacar nacionalmente.

Antes mesmo de a tal canção ufanista conquistar o segundo lugar na fase nacional do FIC daquele ano, perdendo apenas para “BR-3”, outra música de sua autoria já ecoava nas rádios do país inteiro, na voz de Elis Regina: o samba “Madalena” (“Até a lua / se arrisca num palpite / que o nosso amor existe / forte ou fraco, alegre ou triste”).

Uma coisa se somou à outra e o artista foi contratado pela Rede Globo, organizadora do FIC, para apresentar o programa Som Livre Exportação, ao lado dos colegas do MAU: Gonzaguinha, César Costa Filho, Aldir Blanc, João Bosco. O sucesso foi tão grande que, em pouco tempo, Elis Regina se juntou a Ivan no comando do programa, e o time de convidados passou a incluir estrelas como Wilson Simonal, Milton Nascimento, Chico Buarque, Tim Maia e Jorge Ben.

Apesar do estrondo inicial, o programa não durou muito, vencido pela falta de tempo para ensaios e pela repetição de um modelo desgastado. E Ivan Lins foi descartado pela TV com a mesma fama de alienado já colada ao programa.

Após três anos recluso, Ivan Lins se reinventou, graças à parceria com o colega de pescarias Vítor Martins. Retornou às paradas de sucesso em 1974 com uma canção engajada, cheia de entrelinhas, a primeira parceria dos dois. “Abre Alas” foi sua redenção: “Abre alas pra minha folia / já está chegando a hora / abre alas pra minha bandeira / já está chegando a hora / (…) Encoste essa porta / que a nossa conversa / não pode vazar”.

Seguiram-se outras canções viscerais, muitas delas lançadas ou regravadas por Elis, como “Aos Nossos Filhos” (“E quando passarem a limpo / e quando cortarem os laços / e quando soltarem os cintos / façam a festa por mim”) e “Cartomante” (“Nos dias de hoje não lhes dê motivo / porque na verdade eu te quero vivo”).

Em 1979, voltou à TV, como o compositor da música de abertura da série Malu Mulher, um estrondoso sucesso da Globo. “Começar de Novo”, nova parceria com Vítor Martins, foi gravada por Simone e, nos anos seguintes, regravada por diversos artistas, no Brasil e no exterior, incluindo uma versão em inglês na voz de Sarah Vaughan.

Com uma pegada mais pop a partir de meados dos anos 1980, Ivan Lins tornou-se um dos compositores brasileiros de maior sucesso nos Estados Unidos (Ella Fitzgerald e Barbara Streisand são outros dois exemplos de cantoras que gravaram músicas dele) e, novamente com Vítor Martins, fundou em 1991 a gravadora Velas, com atuação significativa no registro da MPB. Guinga, Chico César e Lenine tiveram seus primeiros álbuns lançados pela Velas.

O ainda desconhecido Ivan Lins, ao piano, defende "O amor é meu país", parceria dele com Ronaldo Monteiro de Souza, no 5º Festival Internacional da Canção, em 1970

frases

  • "Foi através de uns amigos de pescaria (que conheci Ivan Lins). Ele queria aprender a pescar e eu me dispus a ensiná-lo. Pescávamos nas pedras do aeroporto Santos Dumont. Ele já estava na RCA Victor. Um dia, me perguntou se eu queria colocar letra em uma música sua. Em maio de 1974 compusemos 'Abre Alas', nosso primeiro sucesso. Começamos devagar, mas nessa época, eu já tinha virado bandido no meio." (Vítor Martins, em entrevista à revista Kalunga)