MPB 4

Miltinho, Magro, Aquiles e Ruy. Em meados de 1964, o Brasil ganhou seu fab four. O quarteto fantástico do samba engajado surgiu no campus da Universidade Federal Fluminense (UFF), em Niterói (RJ), onde dois de seus integrantes, Magro e Miltinho, cursavam Engenharia, e onde Ruy acabara de se formar em Direito. Desde o ano anterior, o grupo militava no Centro Popular de Cultura da UNE.

Conhecido primeiramente como Quarteto do CPC, o conjunto vocal adotou o nome de MPB 4 após a extinção do grupo da UNE, em 1964. O cronista Sérgio Porto, conhecido pelo pseudônimo de Stanislaw Ponte Preta, disse que “MPB 4” parecia prefixo de trem da Central do Brasil. Até aquele ano, a expressão MPB ainda não tinha o significado que lhe é atribuído hoje, pelo menos não com a mesma abrangência. Apenas no final dos anos 1960, mas principalmente em meados da década seguinte, a sigla passaria a designar o amplo guarda-chuva de ritmos brasileiros.

Não demorou para que o MPB 4 lançasse o primeiro compacto duplo, ainda em 1964, trazendo como carro chefe “O Samba da Minha Terra”, de Dorival Caymmi. No ano seguinte, numa viagem a São Paulo, conheceram Chico Buarque e o Quarteto em Cy, espécie de alter ego feminino do conjunto: um quarteto vocal formado apenas por mulheres. Antes de voltar ao Rio, conseguiram um convite para se apresentar no programa O Fino da Bossa, juntamente com Cynara, Cybele, Cyva e Cylene.

Após uma série de shows e musicais encenados no Rio, o grupo gravou seu primeiro LP em 1966, incluindo três composições de Chico Buarque. No ano seguinte, veio a consagração. Acompanharam Chico Buarque na apresentação da canção “Roda Viva”, terceiro lugar no 3º Festival da Record, e passaram a se apresentar ao lado do compositor em shows pelo Brasil.

Em seu repertório, destacam-se canções como “A Estrada e o Violeiro“, de Sidney Miller, cantada em conjunto com as meninas do Quarteto em Cy; “Amigo é Pra Essas Coisas”, primeira letra de Aldir Blanc a ser gravada, em 1970; “Partido Alto”, de Chico Buarque, na qual tiveram de substituir “titica” por “coisica” e “brasileiro” por “batuqueiro”; “Pesadelo“, provavelmente a letra mais explícita de repúdio à censura e à tortura, de autoria de Paulo César Pinheiro; e “O Pato“, de Toquinho e Vinícius de Morais, no infantil Arca de Noé.

Curiosamente, o grupo fez algumas gravações com o nome de Coral Som Livre em 1973 com o objetivo de driblar a censura, que lhes era impiedosa. Data dessa fase a gravação de “O Bem Amado”, de Toquinho e Vinícius, tema da novela homônima da Rede Globo.

MPB 4 acompanha Chico Buarque na execução de "Roda Viva", terceiro lugar no Festival da Record de 1967

O grupo participa do especial infantil Arca de Noé, exibido em 1980 pela Globo, atuando e cantando "O Pato"

frases

  • "Os cariocas eram mais conhecidos em São Paulo, onde tinham vindo passar férias em julho de 1965. Dois anos antes, ao decidirem formar um grupo vocal, os rapazes de Niterói – Rui, formado em Advocacia, Miltinho e Magro, estudantes de Engenharia, e Aquiles, que fazia o segundo grau –, admiradores de Os Cariocas, tinham que encontrar um som diferente para a linha de canções de cunho social de seu repertório, propositadamente com pouca harmonização, herdadas de quando ainda se chamavam Quarteto do CPC. (...) Os arranjos vocais sempre foram de Magro. Na distribuição de vozes, Rui é o tenor e os outros três são barítonos; Magro faz a segunda voz, Aquiles a terceira e Miltinho, a quarta." (Zuza Homem de Mello, em "A Era dos Festivais", de 2003).