Nara Leão

Musa da bossa nova que, aos 15 anos, promovia animadas reuniões em seu apartamento em Copacabana, frequentadas por músicos como Carlos Lyra, Roberto Menescal e Ronaldo Bôscoli, Nara deu uma guinada em 1961, aproximando-se dos sambas de morro e das atividades do Centro Popular de Cultura da UNE, o CPC. Já em seu primeiro álbum, lançado em 1964 pela Elenco, a mudança se faz notar em faixas como “Diz que fui por aí” (Hortênsio Rocha e Zé Keti) e “O sol nascerá” (Cartola e Elton Medeiros).

O engajamento de Nara se tornou mais evidente a partir do golpe de 1964. Em dezembro daquele ano, subiu ao palco ao lado de Zé Keti e João do Vale para apresentar o show Opinião, um marco da música de protesto produzido pelo Teatro de Arena, com direção musical de Dori Caymmi e direção geral de Augusto Boal. A canção-tema não poderia ser mais profética quanto à violência que estava por vir: “Podem me prender / podem me bater / podem até deixar-me sem comer / que eu não mudo de opinião…”.

Nara daria diversas declarações de repúdio ao regime, como numa entrevista ao Diário de Notícias, de maio de 1966, em que defendeu a extinção das Forças Armadas, o que lhe custou sucessivas ameaças de prisão, a ponto de, entre 1970 e 1971, exilar-se em Paris com o marido, o cineasta Cacá Diegues.

Trechos do programa MPB Especial, com depoimentos da cantora, exibidos no programa Trama/Radiola, da TV Cultura.

Programa Arquivo N da GloboNews

frases

  • "Nara era uma moça típica da Zona Sul do Rio de Janeiro — branca, bonitinha e moderna. Era também uma celebridade da bossa nova quando Opinião foi idealizado: seu tipo, em contraste com os dois homens negros e semi-iletrados que dividiriam o palco com ela, tinha sido parte integrante da própria concepção do espetáculo." (Caetano Veloso em "Verdade Tropical", 1997).

    "O veterano músico Jacob do Bandolim detestava-a como cantora. E o filho deste, o jornalista Sérgio Bittencourt, começou a atacá-la dia sim, dia não, em sua mal-humorada coluna 'Bom dia, Rio', no Correio da Manhã. Chegou até a promover uma bizantina discussão sobre se Nara era sambista ou não e, para sua surpresa, ela foi defendida por dois insuspeitos fãs da velha guarda: Lucio Rangel e Sérgio Cabral. Na época, Bittencourt foi abordado na rua por Zé Keti: 'Pelo amor de Deus, pare com isso', implorou Zé Keti. 'Ela é a única que grava músicas minhas, do Cartola e do Nelson Cavaquinho!'" (Ruy Castro em "Chega de Saudade", 1990).