Silvio Rodríguez

Ele tinha 18 anos quando, em 1964, ingressou no serviço militar e aprendeu a tocar violão para driblar os momentos de marasmo no quartel. Compôs ali suas primeiras canções, algumas das quais seriam gravadas no futuro. Mas foi a partir de 1967, quando se associou ao Centro de la Canción Protesta, que Silvio Rodríguez passou a compor e a cantar de forma sistemática. Seu caminho foi muito parecido com o de Pablo Milanés.

Em fevereiro de 1968, os dois se somaram ao colega Noel Nicola e fizeram seu primeiro concerto, na Casa de las Americas. O trio constituiu a base do Grupo de Experimentación Sonora del ICAIC (Instituto Cubano de Artes e Indústria Cinematográfica), o Gesi, que, em 1972, deflagrou oficialmente o movimento musical batizado de “nueva trova cubana”.

As primeiras gravações aparecem nos álbuns coletivos do Gesi. Dessa etapa inicial, sua obra preserva as engajadas “Fusil contra fusil” e “La era está pariendo un corazón” (“E há que se queimar o céu se for preciso/ para viver/ por qualquer homem do mundo/ por qualquer casa”). Nelas, fica evidente a aproximação da música tradicional de Cuba com sonoridades internacionais, como o pop e o rock inglês.

O primeiro LP autoral, Días y Flores, foi lançado em 1975. Na Europa, foi intitulado “Te doy una canción”, porque a ditadura de Francisco Franco, na Espanha, proibiu a veiculação da faixa-título original “Días y Flores”, bem como de “Santiago de Chile”. Nesse primeiro disco, destacam-se “Pequeña Serenata Diurna” e “Sueño con Serpientes“. Ambas seriam gravadas no Brasil, a primeira por Chico Buarque, em seu LP de 1978, e a segunda por Milton Nascimento, no LP Sentinela, de 1980, com participação especial de Mercedes Sosa. As duas canções ficariam para sempre entre as mais importantes do autor, rivalizando apenas com o sucesso de “Ojalá“, lançada em seu disco seguinte, Al final de este viaje, de 1978.

Documentário de meia hora sobre Silvio Rodríguez feito pelo ICAIC em 1983.

frases

  • "Na Ilha existe um poeta valioso, que escreve seus poemas para cantá-los depois, acompanhando-se com um violão. Chama-se Silvio Rodríguez, tem uns 23 anos e umas duzentas canções. Eu o conheci graças a Julio Cortázar, que, suponho, o admira ainda mais do que eu" (Félix Grande, poeta espanhol, na dedicatória da seleção de poesia cubana que publicou em 1968 na revista "Cuadernos Hispanoamericanos".)

    "O certo é que Silvio nos fez ver, entre muitas coisas, que devemos uma canção ao impossível, à mulher, à estrela, ao sonho que nos arrebata, que devemos uma canção indescritível, como uma vela acesa em ventos de esperança." (Ricardo Ramos Tremolada, escritor e jornalista peruano, no suplemento Hipocampo, em 1986).

    "A poesia começou a girar em suas mãos com uma velocidade vertiginosa. Uma, duas, três, até quatro canções por dia: cada uma melhor do que a anterior. Cândidas no princípio, sempre fortes e ternas, com uma mensagem capaz de chacoalhar a mais exigente plateia. As letras foram se tornando maduras, e mesmo agressivas, 'contra toda mente acomodada'. Era difícil segui-lo. Como saber qual era a última canção? Em meados da década de 1970, deixei de contá-las e passavam de mil; a maioria desconhecida do grande público e não por isso piores. Silvio, que sempre foi especial para os que o conhecemos de perto, tornou-se especial para muita gente, em muitos países, converteu-se num ídolo de todos que pensam e de todos os que acreditam que a vida deve ser melhor, que só o homem pode torná-la melhor." (María de los Ángeles Rodríguez, irmã e empresária de Silvio, em artigo de 1988).