Memórias da Ditadura

Darcy Ribeiro

“O mais importante é inventar o Brasil que nós queremos”, afirmou certa vez o antropólogo, escritor e político, Darcy Ribeiro, que ajudou a desvendar a realidade brasileira. Foi, ao mesmo tempo, um homem de ideias, um educador e um realizador.

Formado em antropologia, dedicou seus primeiros anos de vida profissional ao estudo dos índios do Pantanal, do Brasil Central e da Amazônia (1946-1956). Nesse período, criou o Museu do Índio e formulou o projeto de criação do Parque Indígena do Xingu. Elaborou para a Unesco um estudo sobre o impacto da civilização sobre grupos indígenas brasileiros no século XX e, em 1954, colaborou com a Organização Internacional do Trabalho na preparação de um manual sobre os povos aborígenes de todo o mundo.

Nos anos seguintes, dedicou-se à educação primária e superior. Criou a Universidade de Brasília, a UnB, da qual foi o primeiro reitor. Mais tarde, foi chamado por João Goulart para ser ministro-chefe da Casa Civil. Coordenava a implantação de reformas estruturais quando aconteceu o golpe militar de 1964, que o obrigou a se exilar.

Em seu retorno ao Brasil, em 1976, voltou a se dedicar à educação e à política, tendo sido eleito vice-governador do estado Rio de Janeiro em 1982. No ano seguinte, assentou as bases do que viria a ser o Programa Especial de Educação, com o encargo de implantar 500 Cieps, escolas de horário integral para crianças e adolescentes.

Darcy viveu em vários países da América Latina, onde conduziu programas de reforma universitária, com base nas ideias que defendeu no livro “A universidade necessária”. Foi assessor do presidente Salvador Allende, no Chile, e de Velasco Alvarado, no Peru. Nesse período, escreveu os cinco volumes de seus “Estudos de Antropologia da Civilização (“O processo civilizatório”, “As Américas e a civilização”, “O dilema da América Latina”, “Os brasileiros: Teoria do Brasil”, e “Os índios e a civilização”), livros que atingiram mais de 90 edições em diversas traduções. Neles, propõe uma teoria explicativa das causas do desenvolvimento desigual dos povos americanos.

Elegeu-se senador da República pelo estado do Rio de Janeiro em 1991. Elaborou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), sancionada pelo presidente Fernando Henrique Cardoso em 1996, como Lei Darcy Ribeiro. Em 1995, publicou “O povo brasileiro”, livro que encerra a coleção de seus “Estudos de Antropologia da Civilização”, além de uma compilação de seus discursos e ensaios, intitulada “O Brasil como problema”.

Documentário O povo brasileiro (1995)

Entrevista com Darcy Ribeiro no Roda Viva (Parte 1)

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frases

  • “Nós, brasileiros, somos um povo sem ser, impedido de sê-lo. Um povo mestiço na carne e no espírito, já que aqui a mestiçagem jamais foi crime ou pecado. Nela fomos feitos e ainda continuamos nos fazendo. Essa massa de nativos viveu por séculos sem consciência de si… Assim foi até se definir como uma nova identidade étnico-nacional, a de brasileiros…”

    “Eu não tenho medo da morte. A morte é apagar-se, como apagar a luz. Presente, passado e futuro? Tolice. Não existem. A vida vai se construindo e destruindo. O que vai ficando para trás com o passado é a morte. O que está vivo vai adiante”

    “Fracassei em tudo o que tentei na vida. Tentei alfabetizar as crianças brasileiras, não consegui. Tentei salvar os índios, não consegui. Tentei fazer uma universidade séria e fracassei. Tentei fazer o Brasil desenvolver-se autonomamente e fracassei. Mas os fracassos são minhas vitórias. Eu detestaria estar no lugar de quem me venceu.

  • “Darcy Ribeiro foi uma das pessoas mais inteligentes que eu conheci e uma das pessoas mais inteligentes que já nasceram abaixo da linha do Equador. Era de uma inventividade imensa e em tudo que fazia punha a mesma paixão que tinha pela vida.”, Dias Gomes, dramaturgo.

    “Foi meu amigo da vida inteira. Participamos juntos de várias campanhas, de vários combates. Ele era um homem inteligentíssimo, muito vivo. Podia errar, esteve errado várias vezes, mas nunca se omitiu. Teve uma presença muito grande, das mais prestigiosas, na vida do país, sempre opinando, brigando, participando, a cada momento.”, Jorge Amado, escritor.

    “Darcy escrevia extraordinariamente bem, porque acreditava nas coisas sobre as quais escrevia. Disse a ele certa vez que ele era a reencarnação de Gonçalves Dias. Os índios perdem com sua morte, e também perdem os que amam os advogados das causas puras, das causas perdidas.”, Lygia Fagundes Telles, escritora.

    Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/fol/pol/po17023.htm

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