Memórias da Ditadura

Dom Hélder Câmara

“Se dou pão aos pobres, todos me chamam de santo. Se mostro por que os pobres não têm pão, me chamam de comunista e subversivo”, costumava dizer o religioso. Foi um dos fundadores da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que teve importante papel de enfrentamento à ditadura militar brasileira. Graças a esse trabalho, foi elevado ao título de bispo da igreja católica, em 1952, tornando-se o secretário geral dessa organização. Em 1964, ele se tornaria arcebispo de Recife e Olinda.

Dias depois do golpe, Dom Hélder divulgou um manifesto apoiando a ação católica operária no Recife. O novo governo militar o acusou de demagogo e comunista, e ele foi proibido de se manifestar publicamente. Com a implantação do Ato Institucional Nº 5 (AI-5), em 1968, por incomodar muito os militares, passou a ser considerado pelos agentes do governo como um “morto-vivo”. Os meios de comunicação não podiam falar sobre ele, nem publicar nada que mencionasse seu nome. O arcebispo estava proibido até de frequentar as universidades do país.

Porém, Dom Hélder nem sempre foi um homem progressista. Na década de 1930, aproximou-se da luta política da Ação Integralista Brasileira (AIB). Com o tempo, foi percebendo que o integralismo apoiava regimes extremamente violentos, como o fascismo e o nazismo. Quando pessoas importantes resolviam sair do movimento integralista, eram perseguidas e algumas eram mortas. O próprio padre Hélder, após sair do partido, passou a ser perseguido e precisou fugir para não ser mais uma vítima.

Em 1972 foi indicado para o Prêmio Nobel da Paz. Dom Hélder se aposentou em 1985, tendo organizado mais de 500 comunidades eclesiais de base. No final da década de 1990, lançou a campanha “Ano 2000 Sem Miséria”.

Documentário Dom Helder Camara - O Santo Rebelde

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frases

  • “O papa sabe muito bem o que eu digo e o que eu faço. Quando denuncio as torturas no Brasil, o papa fica sabendo. Quando eu luto pelos prisioneiros políticos e pelos pobres, o papa fica sabendo. Quando eu viajo ao exterior para exigir justiça, o papa fica sabendo. Ele já conheceu minhas opiniões porque nós nos conhecemos há algum tempo, desde 1950, para ser exato, quando ele era secretário de Estado do Vaticano para Assuntos Ordinários. Não escondo nada dele, nunca escondi. E se o papa achasse errado fazer o que faço, se ele me pedisse para parar, eu pararia. Eu sou servo da igreja e conheço o valor do sacrifício. Mas o papa não me diz nada disso, e se ele me chama de ‘arcebispo vermelho’ ele o faz brincando, afetuosamente, com certeza não do modo como o fazem aqui no Brasil onde qualquer um que não seja um reacionário é chamado de comunista ou a serviço dos comunistas. A acusação não me atinge. Se eu fosse um agitador, um comunista, eu não poderia ir aos Estados Unidos e receber o título de doutor honoris causa das universidades americanas.”

    “As torturas no Brasil, por exemplo, foram denunciadas, primeiro e principalmente, pela comissão papal que, esta sim, empenhou a autoridade do papa. O próprio papa então foi condenado, e sua condenação é muito mais eloquente que a de um sacerdote que não teme ninguém no Vaticano.”

    Trechos de entrevista de Dom Hélder Câmara à jornalista italiana Oriana Fallaci, publicada no livro “A arte da entrevista” (Boitempo), com organização de Fábio Altman

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