Memórias da Ditadura

Iara Iavelberg

Iara Iavelberg foi psicóloga, docente e militante. Filha de uma tradicional família judia de São Paulo, casou-se aos 16 anos. Três anos depois, já mostrando seu perfil libertário e feminista, desafiou as tradições e se separou. Iniciou-se na política no movimento estudantil, em 1963, ao entrar na Faculdade de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP), cujo centro acadêmico hoje leva seu nome.

Militou na Organização Revolucionária Marxista Política Operária (Polop), na Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), na VAR-Palmares e, finalmente, no Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8), ao qual ingressou junto a seu companheiro, Carlos Lamarca. Iara e Lamarca se conheceram em abril de 1969, dois meses após a deserção do ex-capitão. O casal era um dos mais buscados pela ditadura militar, com fotos espalhadas por todo o país.

Após passarem alguns meses no Rio de Janeiro, ambos foram à Bahia. Lamarca foi mandado para o sertão e Iara para a capital. Em agosto de 1971, policiais cercaram o apartamento onde a militante estava escondida, no bairro de Pituba, junto a outros militantes. Iara conseguiu se refugiar no apartamento vizinho, mas posteriormente foi encurralada pela polícia.

Na versão do regime militar, Iara deu um tiro contra o próprio peito quando se viu diante da impossibilidade de fugir. O laudo – que posteriormente desapareceu – foi assinado pelo legista Charles Pittex e o corpo foi entregue à família apenas um mês após sua morte. Seguindo as tradições judaicas, Iara foi enterrada em uma área específica do cemitério destinada a suicidas, com os pés voltados para a lápide, tradição entendida como uma desonra.

A teoria de suicídio, entretanto, nunca convenceu a família, incluindo seus dois irmãos, Samuel e Raul, também militantes. Após uma longa batalha a família pôde, em 2003, reiniciar um processo de investigação e realizar uma exumação do corpo de Iara. O legista Daniel Muñoz concluiu que a morte de Iara por suicídio era “improvável” e seu corpo foi finalmente retirado da ala de suicidas do cemitério israelita. Mariana Pamplona, sobrinha de Iara, roteirizou o documentário Em busca de Iara, no qual, além de um perfil da tia, busca desvendar as circunstâncias de sua morte.

Trailer do documentário Em Busca de Iara

Comissão Estadual da Verdade “Rubens Paiva” trata do caso Iara Iavelberg

Matéria da TV Alesp sobre a audiência do caso Iara

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frases

  • “Para nossa família, o processo era uma questão mais política do que religiosa. Queríamos fazer um resgate histórico da figura de Iara, uma mulher forte que decidiu ser guerrilheira para lutar por um país melhor e mais justo”, Mariana Pamplona, sobrinha e roteirista de Em Busca de Iara.

    “O nosso amor é uma realidade que veio sendo transformada – hoje atinge um nível nunca por mim sonhado, mas vamos continuar transformando. Sonho com ele numa fazenda coletiva – juro não ser ciumento e lutar junto contigo pela tua liberdade – e vou te amar mais intensamente, isto é possível, sinto que é. Nosso amor não está isolado na realização de nós dois, nem nos milhares de filhos que teremos, ele nasceu e estará umbilicalmente ligado à Revolução e construção do Socialismo”, trecho de carta de Lamarca a Iara.

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