Memórias da Ditadura

Joaquinzão

Joaquinzão foi um camponês desaparecido no Araguaia, morto em 1973. Sua data de nascimento não é conhecida. Na verdade, pouco se sabe a seu respeito. Em depoimento ao jornal Movimento, de julho de 1979, um guia do Exército afirmou:

“Vi cortar a cabeça de Joaquinzão. Esse era um moço forte. Foi uma morte muito feia. Eu achava tudo muito feio e tinha pena, mas não podia falar nada porque eles faziam fogo quando topava com a trilha deles. Fazia fogo. Quem escapava, escapava. Quem morria, morria. (…) Aí o Joaquinzão estava nesse dia com a turma de 5 parceiros. (…) Teve 5 minutos de fogo. Quando terminou, nós fomos chegando pra lá, se arrastando na folha, aí nós enxergamos ele. Aí o sargento disse: ‘Esse aí é que é o Joaquinzão’. E mostrou o retrato pra todo mundo, pros soldados, pros mateiros e pro guia. Aí procurou por mim, se eu conhecia. Eu disse: ‘Não, senhor, não conhecia’. Ele disse: ‘É, você conhece, você está punindo por eles‘. (…) Aí ele parou de conversar e foi tirando a faca pra cortar a cabeça do Joaquinzão. Tirou a cabeça, botou num saco de estopa e de tardezinha o “sapão” [helicóptero] veio pegar. Eles botavam a cabeça dentro de uma caixa e aí subia com ela para o “sapão”, que levava para o comando em Xambioá. Não sei o que eles faziam com ela.”

Em 2001, Valdemar Cruz Moura declarou em depoimento prestado ao Ministério Público Federal que, no dia 18 de junho de 1973, seu pai, Joaquim de Souza Moura, conhecido por Joaquinzão, saiu para trabalhar, como de costume, e não mais retornou para sua casa. E que a partir desse dia nunca mais viu o seu pai. A família por muito tempo procurou saber o que tinha acontecido. Ele disse que não conheceu nenhum guerrilheiro, nem nunca foram na sua casa; que o Exército chegou a ir várias vezes a sua casa, para fazer indagações sobre o “pessoal da mata”, mas seu pai sempre respondia que não os conhecia. Ele acredita que seu pai foi morto pelo Exército porque seu nome consta do cartaz com os nomes das vítimas da guerrilha. Afirmou que seu pai era uma pessoa muito conhecida da região e que naquela época fizeram várias tentativa junto ao Batalhão do Exército para tentar descobrir o que acontecera, mas nunca obtiveram informações sobre o ocorrido. Segundo ele, depois do desaparecimento de seu pai, a família abandonou as terras, a casa e tudo o que tinham e foram embora para Araguaína, porque sua mãe ficou nervosa e não quis ficar mais na região. Contou que sua mãe faleceu cerca de seis meses após o desaparecimento de seu pai.

Não foi possível confirmar se essa pessoa seria o mesmo Joaquinzão citado como morto. Seu nome também consta no “Dossiê dos Mortos e Desaparecidos Políticos a partir de 1964”, apenas como Joaquinzão.

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