Memórias da Ditadura

José Carlos Novaes da Mata Machado

Mais conhecido como “Zé”, foi dirigente da Ação Popular Marxista-Leninista (APML), inicialmente chamada apenas de Ação Popular (AP). Morreu aos 27 anos, em 1973, após sofrer torturas durante dez dias seguidos no DOI-Codi do Recife (PE). Na versão oficial de sua morte, consta que ele e o militante Gildo Macedo Lacerda teriam morrido num tiroteio na mesma cidade, após “um subversivo de codinome Antônio” ter pressentido algo de errado e aberto fogo contra eles num encontro para o qual teriam sido levados como isca.

Sua prisão foi facilitada por Gilberto Prata Soares, seu cunhado e ex-membro da AP, que, após ser preso em fevereiro de 1973, começou a operar como uma espécie de Cabo Anselmo civil, ao concordar em colaborar com os militares na identificação dos militantes da APML. Sua atuação como informante levou também à prisão de Honestino Guimarães.

Filho do jurista e ex-deputado Edgar da Mata Machado, que teve sua cadeira de cátedra cassada durante o regime, Zé entrou para o curso de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em 1964, tendo obtido a primeira colocação no vestibular. Em 1967, chegou a ser vice-presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE). Em 1968, foi preso durante o Congresso de Ibiúna (SP) e condenado a oito meses de reclusão nas celas do Dops de Belo Horizonte. Em 1970, casou-se com sua companheira de AP, Maria Madalena Prata Soares, e morou, por mais de um ano, numa favela em Fortaleza (CE).

Sua morte e a de Gildo repercutiram internacionalmente. O nome de José Carlos Mata Machado foi dado a uma rua em Belo Horizonte.  Anteriormente a rua chamava-se Dan Mitrione, torturador que veio dos Estados Unidos para o Brasil com o objetivo de ensinar “métodos modernos de interrogatório” aos policiais e militares, utilizava como cobaias mendigos recolhidos nas ruas e como alvo presos políticos.

Documentário Bela Vista

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  • “Sua morte, na madrugada do dia 28, foi testemunhada pela estudante Fernanda Gomes de Matos e Melânia Almeida Carvalho, que estavam presas no DOI-Codi do Recife. Fernanda reconheceu, imediatamente, quando Mata Machado chegou no dia 27 de outubro de 1973, escoltado por agentes, com uma venda nos olhos. Após várias horas de agonia, pedindo ajuda, porque estava perdendo muito sangue, a voz grave de Mata Machado silenciou.”, Bernardo, irmão de José Carlos, em outubro de 1993, por ocasião dos 20 anos de sua morte.

    “Pela primeira vez, depois de vários dias, José Carlos, Madalena e Grauninha (a companheira Maria do Socorro, hoje psicoterapeuta em São Paulo) almoçaram comida de verdade. Arroz, feijão, um pedaço de carne. Mesmo nas trevas, a elegância de José Carlos se destacava. Pegava o garfo, a faca, comia como se estivesse num jantar de Natal, com toda a família. A educação serena se mantinha na dura clandestinidade.”, Samarone Lima, em “Zé – José Carlos Novais da Mata Machado, uma reportagem”.

    “Meu nome é José Carlos Novais da Mata Machado. Sou dirigente nacional da Ação Popular Marxista-Leninista. Se você puder, se tiver condições, avise aos companheiros que eu não abri nada.”, ouviu dele Rubens Lemos, preso com ele em Recife.

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