Memórias da Ditadura

Laura Petit da Silva

Desde os anos 1970, Laura Petit da Silva trava uma luta para encontrar os restos mortais de três irmãos assassinados pelo Exército na Guerrilha do Araguaia. Primeiro, Maria Lúcia, posteriormente, Jaime Petit da Silva e Lúcio Petit da Silva.

O pai dos quatro morreu cedo, assassinado por um dos capatazes de uma fazenda de café que administrava no interior de São Paulo. A mãe, então com 28 anos, seguiu com os filhos para Itapuí (SP) e depois para Amparo (SP), onde Laura iniciou seus estudos e onde nasceu Clóvis, seu quarto irmão. Após alguns anos, mudaram-se para Bauru (SP), onde o avô materno administrava uma fazenda.

Por causa de dificuldades financeiras, sua mãe mandou Lúcio para Minas Gerais e Jaime para o Rio de Janeiro, ambos em casas de familiares, enquanto Laura foi para São Paulo, onde um tio aceitou recebê-la e custear seus estudos. Nas férias, todos se reuniam em Duartina, para onde a mãe e os dois filhos mais novos haviam se mudado.

Anos mais tarde, os irmãos Petit, com exceção do caçula, passaram a viver em São Paulo. Laura, cursando Ciências Sociais no Centro Maria Antônia e militando no movimento estudantil, Lúcio e Jaime, formados em Engenharia, e Maria Lúcia, como estudante secundarista. Os três últimos entraram para o Partido Comunista do Brasil (PCdoB). Em 1970, foram para o Araguaia, onde o partido instalaria a guerrilha. Foi nessa época em que Laura os viu pela última vez, sem saber para onde iriam.

A partir de então, Laura recebia notícias dos irmãos por meio de cartas trazidas por um mensageiro chamado Antônio, que depois descobriria ser Carlos Nicolau Danielli, dirigente do PCdoB. Em 1972, quando o Exército deu início à repressão da Guerrilha do Araguaia, Antônio revelou a Laura o local onde os irmãos estavam.

No ano seguinte, ao saberem da morte de Danielli pelos jornais, Laura e o marido reuniram documentos, fotos, jornais e livros de sua casa e jogaram no rio Tietê, para o caso de agentes do Estado aparecerem. No mesmo ano, Regilena de Aquino, que fora casada com Jaime, revelou a eles que Maria Lúcia estava morta. De Jaime e Lúcio, Laura nunca teve notícias confiáveis. Até a Lei da Anistia, em 1979, acreditava que poderiam estar vivos e que voltariam.

Os restos mortais de Maria Lúcia foram localizados em 1991 no cemitério de Xambioá, em Tocantins, envoltos num tecido de paraquedas, e identificados por exame de DNA, em 1996, após forte pressão de Laura sobre o Departamento de Medicina Legal da Unicamp, para onde as ossadas foram levadas, e sobre o legista Badan Palhares. Ela teve que reunir forças para isso  após a morte da filha caçula, em 1990, aos quatro anos.

Audiência Comissão da Verdade do Estado de São Paulo “Rubens Paiva” sobre desaparecidos no Araguaia

Quando só resta a memória: 40 anos de busca pelos irmãos Petit

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