Memórias da Ditadura

Márcio Moreira Alves

Iniciou sua carreira profissional como repórter no Correio da Manhã, no Rio de Janeiro. Adversário do governo João Goulart (1961-1964), inicialmente apoiou o golpe militar de 1964, tornando-se seu opositor a partir da edição do primeiro Ato Institucional em abril. Foi eleito deputado federal em 1966, pelo Movimento Democrático Brasileiro (MDB), depois de denunciar a ocorrência de torturas contra oposicionistas. Destacou-se pela eloquência e combatividade na Câmara.

Em setembro de 1968, fez um discurso na Câmara protestando contra a invasão da Universidade de Brasília (UnB) pela Polícia Militar. O tom radical de seu discurso e a não aceitação da Câmara do pedido de cassação de seu mandato, encaminhado pelo Supremo Tribunal Federal, teriam servido como estopim para a edição do Ato Institucional Nº 5 (AI-5), em dezembro daquele ano.

Cassado pelo AI-5, deixou clandestinamente o país ainda em dezembro de 1968, e só voltou em 1979, com a anistia. Com o fim do bipartidarismo, em novembro daquele ano, e a posterior reformulação partidária, filiou-se ao Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) e, nessa legenda, concorreu a uma cadeira na Câmara dos Deputados pelo Rio de Janeiro.

Entre 1982 e 1984, assessorou Luís Carlos Bresser Pereira na presidência do Banco do Estado de São Paulo (Banespa), e depois na Secretaria de Governo de São Paulo. Ao longo de sua vida profissional, também se dedicou a escrever livros, como “Torturas e torturados, manual do cronista aprendiz”, coletânea de artigos de seus trinta anos de colunista, “A velha classe”, “Beabá do MEC-Usaid”, e “A grain of mustard – the awakening of Brazilian revolution”. Faleceu em abril de 2009.

Documentário AI-5: O dia que não existiu, dirigido por Paulo Markun

Links

frases

  • “Apagado o meu nome, apagados os nomes de quase todos nós da memória de todos os brasileiros, nela ficará, intacta, a decisão que em breve a Câmara tomará. Não se lembrarão os pósteros do deputado cuja liberdade de exprimir da tribuna o seu pensamento é hoje contestada. Saberão todavia dizer se o Parlamento a que pertenceu manteve a prerrogativa da inviolabilidade ou se dela abriu mão.”, discurso de Márcio, aos 32 anos, na tribuna da Câmara, em 12 de dezembro de 1968.

  • “Quem conhece de perto, sabe que Marcito não é apenas o último membro de uma estirpe de políticos mineiros (embora seja ele carioca) a fazer uma meteórica carreira parlamentar. Sua luta reveste-se de uma coragem e destaca-se por uma coerência raramente encontradas entre os filhos da classe dominante brasileira que, em alguns momentos de suas vidas, pensaram em trocar seus interesses pelos interesses dos dominados. Nos idos de 1964-65 (...) Marcito deixava a redação do Correio da Manhã para ir ao encontro da outra parcela, mais combativa, ligada aos movimentos populares, que se encontrava nos cárceres.”

    (Frei Betto, no Prefácio ao livro A Igreja e a Política no Brasil, 19 de março de 1979)

Biografias
da
resistência