Memórias da Ditadura

Vladimir Palmeira

Vladimir Palmeira foi um líder estudantil que, aos 23 anos, liderou a Passeata dos 100 Mil contra a ditadura, no dia 26 de junho de 1968, na cidade do Rio de Janeiro. À época, era presidente da União Metropolitana dos Estudantes (UME), entidade do antigo estado da Guanabara. Foi preso três vezes: em 1967, em agosto de 1968 e novamente no Congresso da UNE, em Ibiúna. Em setembro de 1969 saiu da prisão para o exílio – sendo um dos 15 prisioneiros políticos trocados pelo embaixador dos Estados Unidos, Charles Elbrick, que havia sido sequestrado por meio de ação conjunta do Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8) e da Aliança Libertadora Nacional (ALN).

Nos dez anos seguintes, morou no México, em Cuba, no Chile e na Bélgica, onde se formou em Ciências Econômicas, pela Universidade Livre de Bruxelas. Com a Lei da Anistia, Vladimir voltou ao Brasil, em 1979, e, no ano seguinte, participou da fundação do Partido dos Trabalhadores (PT). Tornou-se deputado federal por dois mandatos consecutivos (de 1987 a 1994).

Em junho de 2011, em protesto contra a readmissão do ex-tesoureiro Delúbio Soares, decidiu deixar a legenda. Em 2013, filiou-se ao Partido Socialista Brasileiro (PSB). Palmeira é economista e professor.

Documentário Vladimir Palmeira: Antes, Durante e Hoje (2011)

Documentário da TV Câmara Vladimir Palmeira - A história sem mitos

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frases

  • “No Dops não cheguei a ser torturado fisicamente. O que os caras fizeram foi me ameaçar de morte várias vezes. Quando me transferiram para a Vila Militar, me amarraram os braços e as pernas, vendaram meus olhos e disseram que iam me jogar no rio Guandu. Depois, senti a água em volta do corpo todo, cheguei a achar que os caras iam me afogar mesmo. Na Vila Militar, o clima no começo era muito ruim, mas depois melhorou muito.”

    “Logo nos primeiros dias, chegou perto de mim um tenente, com um menino de uns cinco anos pelo braço. Me apontou para o menino e falou: ‘Olha bem esse sujeito, meu filho. É por causa dele que teu pai fica sempre de prontidão e não pode passar mais tempo contigo. Minha vontade é dar um tiro nele, mas o coronel proibiu. Olha bem para ele, meu filho. Ele é teu inimigo e do teu pai’. Depois a situação mudou. No fim, já brincava comigo: ‘Por que você não dá um jeito de o Franklin, o Muniz e o Marcos Medeiros virem para cá? Assim a gente fazia um jogo de estudantes contra a Vila Militar’.”

    “Eu já criticava aquele estilo de luta armada na época. Sempre acreditei na revolução como manifestação das massas. Mas louve-se que nosso pessoal pelo menos acabou com aquela história de só papo. Praticou suas convicções.”

    “A passeata dos 100 mil começou porque fizemos três dias de manifestações. Usamos pela primeira vez a violência para mostrar que nosso interesse era resolver as questões da universidade. Usamos paus, pedras, coquetéis molotov, fizemos barricada na Avenida Rio Branco, no Rio. Depois tocaram fogo num caminhão do Exército. E até batemos na polícia. Nos dias seguintes ocupamos a reitoria da universidade federal, obrigando o conselho universitário a dialogar conosco. A gente exigia a democratização e a mudança de currículo. Mas na época não dava para separar a política do governo ditatorial da questão universitária: eram ligadas. Fomos reprimidos e marcamos nova manifestação, já sabendo que haveria repressão. Chamamos uma manifestação grande, que virou a dos 100 mil. Tínhamos reivindicações estudantis, mas pelo leque de manifestantes que participaram acabou virando um protesto contra a ditadura.”

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