Calabar

Calabar (1973), de Chico Buarque e Ruy Guerra. Direção de Fernando Peixoto. Com Betty Faria, Odilon Wagner, Paulo de Tarso e outros. Trilha sonora de Chico Buarque, direção musical de Dori Caymmi.

A peça tinha estreia marcada para novembro de 1973, no Teatro João Caetano, no Rio de Janeiro, mas foi proibida e só estreou em 1980. O texto propunha uma revisão da figura do senhor de engenho afrodescendente Domingos Fernandes Calabar, que se aliou aos holandeses no século 17, traindo os portugueses, seus antigos aliados. A peça adota o ponto de vista de sua viúva e coloca em cena uma questão crucial: o que é ser um traidor da pátria? Através da figura de Calabar, procurava-se fazer uma crítica à conjuntura repressiva e entreguista. A expectativa era alta quando a peça finalmente entrou em cartaz, mas a crítica foi dura.

Links

frases

  • “Calabar é, em todos os níveis, a frustração de uma grande promessa. O personagem histórico que os manuais oficiais tabelam de ‘traidor’ teria revelado uma consciência política avançada, ao preferir para o Brasil o menos mau dos opressores – no caso, os holandeses razoavelmente progressistas que nos invadiram no século XVII. Na época de Chico Buarque e Ruy Guerra, ele aparece apenas no título, em flashes fugidios de tortura, e nas falas dos outros personagens. Mas a influência, direta ou indireta, que exerce sobre o comportamento dos demais, projeta-o como um novo mito, criado pela engenhosa inversão de ótica dos autores. Com seu sacrifício, frustram-se as esperanças progressistas da colônia”. Ilka Marinho Zanotto, “O talento perdido em Calabar”, em O Estado de S. Paulo, 17/05/1980.