Memórias da Ditadura

Programas da época

Repórter Esso

O Repórter Esso foi o primeiro noticiário de radiojornalismo do Brasil que não se limitava a ler as notícias recortadas dos jornais, já que as matérias eram enviadas por uma agência internacional de notícias dos Estados Unidos. A primeira transmissão ocorreu na Rádio Nacional do Rio de Janeiro, em 28 de agosto de 1941, iniciando a cobertura do Brasil na Segunda Guerra Mundial. Foi nesse programa que o deputado Rubens Paiva fez o famoso discurso contra o golpe, no dia 1º de abril de 1964. O último programa no rádio foi em 1968.

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–  Repórter Esso – Testemunha ocular da história paulista” (PDF)

Projeto Minerva

O governo militar criou um programa de ensino à distância chamado Projeto Minerva. O programa entrou no ar pela primeira vez no dia 4 de outubro de 1970. O objetivo era solucionar os problemas educacionais com a implantação de uma cadeia de rádio e televisão educativas para a massa, utilizando métodos e instrumentos não convencionais de ensino. Como tudo era controlado, o governo determinou horários obrigatórios para a transmissão de programas educativos. Os programas pretendiam preparar alunos para os exames supletivos de Capacitação Ginasial e Madureza Ginasial, estudantes que não tinham condições de frequentar um curso preparatório. O Projeto Minerva foi mantido até o início dos anos 1980, apesar das severas críticas e do baixo índice de aprovação – 77% dos inscritos não conseguiram obter o diploma.

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Projeto Minerva (áudio)

A utilização do rádio na educação à distância: Projeto Minerva e o Movimento de Educação de Base (PDF)
O rádio na educação à distância

Radionovelas

Até a década de 1960, algumas rádios ainda faziam radionovelas, conseguindo resistir até os primeiros anos de 1970, quando o gênero acabou de vez. O crescimento da televisão e a migração da verba publicitária explica em parte o abandono do gênero. Grande parte dos atores famosos das radionovelas, como Mário Lago e Paulo Gracindo, migraram para a TV. De 1956 a 1969, ficaram famosas novelas criadas por Janete Clair como Perdão Meu Filho, Vende-se um Véu de Noiva, Amar Até Morrer e Irmãos Coragem. Muitos escritores de radionovelas, como Dias Gomes e Oduvaldo Vianna, eram ligados ao Partido Comunista Brasileiro.

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No tempo das radionovelas
A radionovela no Brasil

Programa de Rádio O Trabuco

Marco no radiojornalismo paulista nos anos 1960 e 1970, Vicente Leporace criou e apresentou o programa O Trabuco durante 16 anos na Rádio Bandeirantes. O formato consistia na leitura diária das notícias veiculadas nos principais periódicos do país, seguidas de comentários e críticas sobre elas. O teor dessas observações era sempre ácido e com acentuado conteúdo cômico. O radialista deixava claro, que os comentários e críticas eram de sua inteira responsabilidade, o que acabou por torná-lo um sujeito popular e com forte postura de defensor das classes menos favorecidas.

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– Trabuco

– Áudio de Vicente Leporace

Artigo “Vicente Leporace”, por Roselita Lopes de Almeida Freitas
Biografia de Vicente Leporace
Vicente Leporace – Histórico
– 100 anos de Vicente Leporace

Voz do Brasil

Criado no governo de Getúlio Vargas com o nome de Programa Nacional, foi ao ar pela primeira vez em 1934. Em 1938, ganhou o nome de Hora do Brasil e se tornou obrigatório para todas as rádios das 19 às 20 horas. Em 1971, por determinação do presidente Médici, o nome mudou para A Voz do Brasil. No ar até hoje, o programa de uma hora destaca as atividades da presidência da república, do legislativo e do Tribunal de Contas da União (TCU). Durante o período militar foi mais um programa que destacava as grandes obras e a ideia de “milagre econômico”, colaborando para o marketing do regime.

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– A Voz do Brasil

A Voz do Brasil – Página Institucional
A resistente “Voz do Brasil”

Patrulha Bandeirantes

O programa, que ficou no ar entre 1955 e 1974, se dedicava a dramatizar os crimes publicados pelos jornais no dia anterior. O radioteatro tinha narração de Leonardo de Castro. No elenco, merecem destaque também Muíbo César Cury e Ronaldo Baptista. No campo policial, repórteres especializados se encarregavam de narrar histórias de crimes. Na própria Bandeirantes, José Gil Avilé, o Beija-Flor, foi pioneiro no estilo.

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– Bandeirantes

Rádio Marconi e Gil Gomes

Criada em 1962, a Rádio Marconi de São Paulo era conhecida como a rádio dos trabalhadores. A partir de 1964, priorizou o jornalismo, com duras críticas ao regime militar. O radiojornalista Orpheu Salles foi preso no primeiro dia do golpe. Frequentemente os agentes do Dentel invadiam o estúdio, detinham os funcionários e deixavam a rádio fora do ar, até que os donos conseguissem uma liminar para voltar a operar. A partir de 1968 deixou de fazer críticas ao governo e à polícia e, em 1973, foi lacrada pelo governo Médici. Foi nela que, em 1968, o jovem repórter Gil Gomes narrou um caso de agressão sexual no edifício da rádio e descobriu assim sua vocação para o jornalismo policial. Nesse dia, a rádio teve audiência recorde.

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Jornalista e repórter policial Gil Gomes

Jornal Gente Bandeirantes

Sucessor de O Trabuco, o jornal manteve a cobertura combativa frente à ditadura. À época das greves sindicais, a rádio Bandeirantes era a única que transmitia o então líder sindical Lula ao vivo. As outras não se arriscavam, apresentavam apenas entrevistas gravadas. Foi ainda um marco do jornalismo radiofônico opinativo e um dos programas de maior longevidade do rádio brasileiro.

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Jornal Gente

Balança Mas Não Cai

O programa humorístico, ancorado por Wilton Franco, estreou em 1950, na Rádio Nacional, e ali permaneceu até 1967. Ele apresentava os quadros humorísticos, supostamente passados nos apartamentos de um edifício residencial fictício, onde moravam as personagens. Tinha no elenco os atores Paulo Gracindo, Lúcio Mauro, entre outros.

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– Balança mas não cai


Reportagem da Agência Brasil sobre o programa Balança Mas Não Cai
Áudio do programa Balança Mas Não Cai
O humor na Rádio Nacional (PDF)

Big Boy

Com o nascimento das rádios FM no Brasil, foi criada a era dos disc-jockeys, ou seja, dos locutores que cativavam a população e tocavam música. Um dos exemplos mais marcantes da época é o carioca Big Boy, que adiantou o movimento ainda na rádio AM, a Mundial (que se tornaria a rádio de maior audiência entre o público jovem). Seu “hellocrazypeople!”, a maneira irreverente como saudava os ouvintes, tornou-se marca registrada de um estilo próprio, descontraído, diferente da voz impostada dos locutores de então. Nos bailes “da pesada”, promovidos em diversos lugares da cidade, como o Canecão e clubes do subúrbio, Big Boy apresentava as principais novidades da música pop. Nos anos 1970, ele ajudou a divulgar para o público brasileiro a explosão da black music e do funk no exterior.

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A volta ao ar de Big Boy
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